segunda-feira, 22 de novembro de 2010

1963 - NOTAS SOLTAS DE UMA VIAGEM: "caras tristes e sonhadoras - às vezes, porcas..."

Para perceberem as próximas NOTAS SOLTAS é preciso ir ao "post" de 31.10.10...

"Berna, 3/10: acordei às 5.45 da manhã e levantei-me às 7 horas. Tinha avisado o recepcionista para me acordar às 7.30 e, com a pontualidade de um relógio suíço, a essa hora o telefone tocou e do outro lado do fio deram-me os bons dias e disseram que eram 7.30. Pormenor engraçado foi, de madrugada, no hotel, ouvir puxar lustro aos sapatos que tinham ficado à porta dos quartos.


O dia está pardo, mas não chove.


Trabalho: fomos visitar um jornal a uns quinze quilómetros de Berna - o Münsingen. Feita a visita almoçamos no restaurante Bären às 11.30. O almoço para mim foi, primeiro, presunto simples, e, depois, vitela enrolada em farinha com batatas fritas. A sobremesa foi "glacé" e café.


Em Berna, chapelada à bandeira.


Partida para Paris, em Kerzers, às 14.55. No combóio, a ventilação e o aquecimento são reguláveis dentro de cada compartimento. Em Pontarlier tivemos que mudar para outra carruagem. A que saira de Berna avariara-se.


A França recebeu-me com um sol magnífico.Chegada a Dole às 17.53. Nesta estação, vi um grupo de raparigas que, para atravessar uma simples linha, foram pela passagem subterrânea...


Jantei no combóio. Paguei 19.40 francos.


15 minutos antes de o combóio entrar na gare de Lyon já, ao longe, se via Paris. Às 21.45 o combóio parou e dirigi-me ao Metro. Cheira a velho. Entretanto, a primeira situação que me chamou a atenção foi um homem deitado nas próprias galerias do Metro, logo à entrada. Mudei três vezes de combóio lá dentro e percorri "centenas" de metros "à pied".


Vi o primeiro beijo público numa estação de Metro. À saída, meti-me num táxi, depois de algumas pequenas complicações com o nome do hotel ("Victoire" ou "Victoria") que me custaram uns francos... Era quase do outro lado da rua, em relação ao tunel do Metro em que saí...e andei às voltas...para, finalmente, dar com o "Victoria"... que, afinal, não era "Victorie"...


Entretanto, juntei-me ao meu "grupo de trabalho".


Fomos ao Casino de Paris. O espectáculo começou às 20.30 e terminou às 23.55. Inolvidável! Depois fomos cear ao restaurante Garnier, 111, rua St. Lazare.


5/10: hoje e amanhã não há que fazer... São dias de folia!... Fomos ao Louvre. Daqui vê-se, ao fundo, o Obelisco da Concórdia e os Campos Elísios, que estão todos embandeirados por causa do Salão Automóvel.


Ás 18.30 fomos ver um espectáculo de cinerama.


Cerca das nove da noite, demos uma volta por algumas ruas do Quartier Latin, onde jantámos nm restaurante fino, mas mesclado de gentes barbudas, garotas loiras com grandes e linda cabeleiras e...e gente vulgar como nós... Comi uma dose de mexilhão e um bife com dedo e meio de altura com batatas fritas.


Há no Quartier Latin umas caras magras, macilentas, desconsoladas, tristes, sonhadoras - às vezes, porcas...
Os "cabarets" fervilham de gente, os risos lá dentro são escancarados. Há menos luz nas ruas e, não raro, vêm-se polícias aos pares, ou até aos três de cada vez...


No Metro, ouve-se um cego a tocar acordeão e a sua música melancólica ecoa nas respectivas galerias, onde passa gente indiferente.


Vi hoje um indivíduo preto à frente de um táxi, a travar-lhe a marcha...


Antes do almoço, noto, ainda fomos à Ópera comprar bilhetes para domingo à noite.


Pormenor de um óleo de Emília Alves












Fomos ao Casino de Paris. Inolvidável!"

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