"Coimbra, 27 de Abril de 1977 - A sedução do poder! O deleite com que o saboreiam muitos dos que ainda há pouco juravam abominá-lo! Sei que poucos escapam ao seu fascínio, e de que disfarces é capaz. No próprio acto criador se acoita. Mas referia-me ao poder concretamente exercido, a nível de mando. O comportamento desses estadistas de pronto a vestir! O que eles dizem e o que eles fazem! Parecem metidos numa outra pele. Novos penteados, novas gravatas, novos gestos, nova gravidade. Adquiriram, sobretudo, uma versatilidade mental e moral inesperada. Como os oráculos, tudo o que lhes sai da boca tem dois sentidos. Falam sempre a cobrir a retirada. Às vezes apetece pôr-lhes um espelho diante dos olhos. Mas talvez fosse inútil. Cegos de felicidade, como poderiam compreender que são uns pobres bonifrates, ao mesmo tempo de boa fé e má consciência?"
in DIÁRIO XII
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