terça-feira, 16 de novembro de 2010

Carta de Goa, cantada pela Adélia *

Do Continente, soldado,
Para a India mobilizado
A servir a Pátria amiga
Dois anos lá demorou
Só soube quando voltou
Que a mãe não era viva

Ao partir o militar
Fez toda a gente chorar
Lá na aldeia, podem crer
A pobre mãe já sem brio
A chorar dizia ao filho
Vais cumprir o teu dever

Deixou então de se ver
Lá foi cumprir seu dever
Sincero rapaz porém
Foi embarcar a Lisboa
Assim que chegou a Goa
Escreveu uma carta à mãe

Na carta dizia assim
Mãezinha não chore por mim
Não é caso para chorar...
Receba um abraço mãe querida
Igual ao da despedida
Quando eu aí chegar

A mãe ainda respondeu
Adeus filhinho meu
Eu fico bem felizmente
Mandaram assim dizer
Para não entristecer
Mas ela estava doente

Passados uns dias morreu
De novo o rapaz escreveu
Mandando o retrato à mãe
Foram as irmãs dela
Escrevendo que ela
Era viva e estava bem

Assim viveu enganado
Lá na India, o bom soldado
Ao regressar notou
Mas na febre de a abraçar
Começou logo a chorar
Ao ver as tias de luto

Ele respondeu porém,
Eu não vejo a minha mãe
O que foi que sucedeu
Respondem as tias então
Tua mãe do coração
A pensar em ti morreu

Ó que desgosto profundo
Outro igual não há no mundo
Minha boa e santa mãe
Morreu num quadro tão triste
Peço a Deus, se Ele existe
Que me leve a mim também.


Do livro "Goa e as praças do norte", de Raquel Soeiro de Brito - 1966






* A Adélia já é nossa conhecida. Ver "post" de 9 de Setembro último.

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