segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Isabel Allende - oportunidade para rever sublinhados

Cada um lê como quer: sentado, deitado, de pé, a passear de um lado para o outro, enquanto ouve música, em silêncio absoluto, num lugar público, no recato da sua casa, para acalmar, antes ou depois de um acto sexual ... Cada um sabe de si. O importante é que, do lido, possa "extrair" qualquer coisa ...


"Vá, deixe-se de conversas e diga como é que faz ..." Eu, meus caros, gosto de ler em recato total, com um lápis na mão e anotando, no final, a data em que acabo a leitura (já o devo ter escrito "nesta coisa"). Mas, na dúvida, fica esta informação doméstica. Porque ... porque ela é "fundamental" para se perceber o que, em determinado momento, nos sensibilizou, o que mereceu a nossa particular atenção (se lermos o mesmo livro duas vezes com a mesma preocupação, lá estão os "sinais" de uma época, e assim por diante ...).


Basta! Estou perante um livro de Isabel Allende que, ontem, Luís Goucha entrevistou na TVI 24, depois de a autora ter explicado o seu "modo de trabalhar". Ficámos a saber, por exemplo, uma miudeza: inicia os seus trabalhos literários a 8 de Janeiro de cada ano e assim continua no possível recato até final. Pareceu-me, entretanto, uma mulher determinada, mas mentalmente solta ainda que, como no mesmo lugar ouvi Saramago, consciente do mercado que a envolve. E a que não se revelou alheia. Embora, no caso do livro que tenho aqui à mão (Paula) a coisa não deva ter acontecido assim ... Escrever acerca de uma filha cujo destino físico e intelectual é dramático não é ficção, é , é fuga (para a frente, embora), é cartase ...

"Saberás que sou a tua mãe quando acordares, Paula? A família e os amigos não falham, à tarde vêm tantas visitas que parecemos uma tribo de índios, alguns vêm de muito longe, passam cá uns dias e depois regressam às suas vidas normais, incluindo o teu pai, que tem um edifício a meio de construção no Chile e já teve que voltar. Nestas semanas partilhando a dor no corredor dos passos perdidos voltei a recordar os bons momentos da nossa juventude, foram-se apagando os pequenos rancores e aprendi a estimar o Michael como um velho e leal amigo, tenho por ele uma consideração sem exuberâncias, custa-me imaginar que alguma vez fizemos amor ou que para o fim da nossa relação o tenha chegado a detestar."

Gostei de ouvir Isabel, não por ser Allende, não por ser de esquerda, mas por, na entrevista, ter sido quase igual a Saramago, o escritor consciente do seu universo literário e ... e (sem sentido pejorativo) comercial.

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