terça-feira, 8 de novembro de 2011

Memórias do meu cata-vento-de Timor a Timor *(III)

"Monsenhor Manuel Teixeira. Era quase tão novo como hoje, quando, na austeridade conventual do seminário de Macau, o conheci, avançando na minha direcção com um sorriso e o olhar luminosos, por cima da alvura de uma barba espessa, a confundir-se parcialmente com o hábito que quase lhe encobria os pés e com a brancura das grossas e nuas paredes circundantes.


Dir-se-ia frente a alguém saído dos confins da História de Portugal; a alguém que, na linha recta dos grandes missionários, vinha ali ao meu encontro para iluminar o que, anos a fio, me ensinaram nos bancos da escola acerca daquelas paragens do Oriente, onde dizem que Camões assentou arraiais. Mas era "apenas" o padre (agora monsenhor) Manuel Teixeira: simpatia, cordialidade, crónica feita gente. Um momento para recordar.


Falou-me, então, de Macau, quase esquecendo a "sua" Freixo de Espada à Cinta, do nascimento. Foram horas (horas ou minutos?) de convívio, rodeadas da calorosa frialdade das paredes a escorrer passado. De diálogo com quem representa uma vida ao serviço do território e da Igreja; com quem é mais de cento e vinte livros publicados a propósito da Cidade; com quem é doutor "honoris causa" pela Universidade da Ásia Ocidental; com quem é, utilizando um lugar comum, "uma enciclopédia viva" sobre as coisas macaenses.


 - Futuro de Macau? - perguntei-lhe. "Está traçado: reverte para a China" Não falou de mágoas, mas lembrou o papel da Igreja, acrescentando com fé: "Nos primeiros 300 anos da sua existência, todos os poderes da Terra e dos Infernos se levantaram contra ela. A Igreja viu-se assaltada por todos os lados. Queimou-a o fogo, varou-a o ferro, despedaçou-a o dente das feras dos circos romanos, 300 anos a perseguiram. As três maiores forças da Terra - o Poder, a Ciência e a Religião - deram-se as mãos para uma guerra de vida ou de morte e a Igreja triunfou de tudo e saiu da refrega mais bela e viçosa na sua vitaldade espiritual".


- E a comunidade portuguesa? - insisti, mudando o rumo à conversa. "... O que é necessário é que o Império da Ideia venha substituir a Ideia do Império", rematou (...).

* Palestra proferida em Santo António dos Cavaleiros, nos arredores de Lisboa, com apresentação em posterior publicação, da Prof. Doutora Maria Beatriz Rocha-Trindade.

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