RICOCHETE
"Que margens têm os rios
Para além das suas margens?
Que viagens são navios?
Que navios são viagens?
Que contrário é uma estrela?
Que estrela é este contrário
De imaginarmos por vê-la
Tudo à volta imaginário?
Que paralelas partidas
Nos articulam os braços
Em formas interrompidas
Para encarnar um espaço?
Que rua vai dar ao tempo?
Que tempo vai dar à rua
Onde o relógio do vento
Pára na hora da Lua?
Que palavra é o silêncio?
Que silêncio é esta voz
Que num soluço suspenso
Chora cá dentro por nós?
Que sereia é o poente
Metade não sei de quê
A pentear-se com pente
Do olhar finito que o vê?
Que medida é o tamanho
De estar sentado ou de pé?
Que contraste torna estranho
Um corpo à alma que é?"
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