Para melhor se perceber, bom será escarrapachar já aqui que o que vão ler (se tiverem paciência ...) foi escrito e publicado em Novembro de 1989, não tenho a certeza, mas talvez no Diário de Coimbra, num espaço semanal que apelidei de "Chuva Miudinha". Mas isso é pouco importante. O que pode ser motivo de eventual reflexão é ... é a indesejada actualidade de ...
"Passavam uns dez dias sobre a queda do Muro, quando, tendo esperado uns minutos para além da hora marcada telefonicamente pela diligente secretária, Sua Excelência, sorriso discreto, me recebeu na ampla sala de trabalho de um dos membros mais atentos à história dos dinheiros do Mercado Comum - de doze: o nosso. Sua Excelência acabara de chegar de Bruxelas e a modos que, preocupado, estava com vontade de desabafar. Quem sabe se aqueles minutos de atraso com que entrei para a entrevista aprazada não foram resultado disso, isto é, de uma urgente e nervosa conversa telefónica com o Gabinete, em São Bento ou na Gomes Teixeira?!... Ignoro. O que não ignoro é que logo fiquei a saber que, no quartel-general da CEE, a confusão é, no mínimo, razoável: pelos jeitos, interrogam-se, sobretudo, os mais débeis quanto às futuras redistribuições dos ecus, enquanto os outros procuram manter a calma dizendo que os há para todos ... O problema maior, contudo, revelou-se-me bem diverso: habituados a pensar em termos de uma certa guerra, os governos estão, doravante (espera-se ... ), confrontados com as fortes hipóteses de uma paz generalizada e duradoura, o que impõe uma inteligente e radical mudança de hábitos, uma radical viragem na mentalidade boazinha do Ocidente. Coisa complicada ...
Disparei, então, a pergunta, ali possível e irresistível, do pé para a mão: "e agora, senhor secretário de Estado, quem é o inimigo?..." Respondeu-me um amplo sorriso - e mudámos de assunto, deste lado de cá do ex-Muro da Vergonha."
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