in John Bull
"(...) Tu viajas digna e honradamente para aprender. És o primeiro de todos os touristes profissionais, és o mais completo e perfeito viajante de todo o Mundo. Entras numa cidade seriamente, religiosamente quase, como entra numa biblioteca o estudioso que se quer instruir. Não tens preferências antecipadas nem opiniões preconcebidas. Todos os fenómenos te interessam por igual modo, e com igual escrúpulo os escrituras e relacionas dia a dia no teu caderno de notas. Equipas-te com incomparável perfeição, ninguém tem melhores estojos, nem melhores malas, nem mais confortáveis plaids, nem mais leves capacetes de sabugo, nem mais sólidos sapatos de marcha. A isso reúnes a petulância da personalidade no exercício da tua missão. Pouco se te dá que te apontem ao dedo, que te achem caturra ou maníaco: prossegues impassível com o teu mapa e o teu guia debaixo do braço, o teu binóculo, os teus lápis de desenho e de escrita, o teu álbum, a tua fita de medir, a tua lente, o teu memorandum-book nas algibeiras.
Vês tudo, não passas por alto um monumento, uma galeria, uma colecção, uma curiosidade local. Desces a todas as profundidades e sobes a todas as eminências assinaladas, para ver, e, quando não haja que ver, unicamente para ter lá estado! A casa e o serviço da mais modesta mesa redonda duma estalagem de província toma aos teus olhos em viagem uma importância igual à que teria para ti em Londres um lever ou um drawing-room de St. James Palace ou de Buckingham Palace, na sala do trono forrada de cetim listrado de púrpura tendo no friso esculpida a história da Guerra das Duas Rosas, ou nas antecâmaras em que lentamente perpassam roçagantes de brocado, de ombros nús, costeladas de brilhantes e turquesas, as mais belas mulheres da nobreza da Inglaterra por entre as filas dos criados empoados, de librés agaloadas de ouro em todas as costuras, empunhando os grandes ramos de flores das recepções de gala.
É assim que tu fazes, por todos os países que atravessas, uma provisão enorme e preciosíssima de factos. E todo o facto humano, por mais estéril e por mais pueril que ele pareça, desde que é autêntico e positivo, constitui um documento de observação, sugere uma hipótese correspondente, é o princípio da aplicação do método na sociologia experimental, e sob a acção do espírito correlacionador dum Bukle, dum Stuart Mill, dum Herbert Spencer, ele pode tornar-se o caminho duma teoria política ou o alicerce duma lei social. Essa imensa compilação de notas recolhidas por ti em viagem aos países estrangeiros é indubitavelmente, sem que isso pareça à primeira vista, a mais considerável riqueza intelectual do povo inglês."
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