sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Obras (sem arte)











"Habituei-me a ver exposições no edifício da Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, num conjunto de quatro espaços distintos: o primeiro, à esquerda de quem entra, que é constituído por três pequenas salas que parecem funcionar como antecâmara da consagração artística; o segundo, e mais importante, é o salão, amplo, em frente, onde dá ideia que só têm entrada as obras que passam todos os crivos da maioria que dirige a SNBA; o terceiro espaço fica no primeiro andar do edifício, em que, em regra, estou convencido, expõem artistas de qualidade, mas sem mérito e quantidade de trabalhos que justifiquem uma presença no salão do piso térreo; uma quarta sala, ou sala e meia, situa-se na cave, e, se não é, semelha ser uma área para os "experimentais" - consentidos.

Seja como for, o que conta, neste mundo tão baralhado com as artes quanto D. Quixote com as cavalarias, é a emoção de quem um dia ali entrou a "pensar" que, não dizendo nada na placa pintada de branco pespegada à entrada do salão principal do edifício (abstracção total?...), era uma escultura, uma escultura moderna, o cubo que se via cá de fora, com um fato-macaco amarrotado e um martelo ferrugento em cima ... Quando, afinal ...

- Eh, pst! Aí, agora, estão em obras! - esclareceu a empregada da Sociedade Nacional de Belas-Artes."

Agosto de 1988

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