Para além de palavras de ordem revolucionárias, que Venezuela trouxe o falecido presidente Hugo Chavez aos venezuelanos e ao Mundo?
Recuemos aos anos 80 do século passado e, se for essa a curiosidade, com o saber actualizado, não sectário, que possamos ter, faça-se, para já, a comparação entre a crónica ligeiríssima e a realidade deixada por Chavez.
A crónica (ligeiríssima) ...
"Numa Caracas com a gasolina normal a cerca de 1$60 o litro:
. os táxis não têm taxímetro;
. os prédios não têm números (conhecem-se (?) pelo nome);
. à meia-noite, o empregado do aeroporto que controla a bagagem de mão, dorme;
. os carros de transporte de valores, às vezes carregados, não "pegam";
. no hotel, o recepcionista pretende substituir a cola, de uma carta para seguir pelo correio, por agrafes;
. faz-se pela esquerda algum trânsito que deveria circular pela direita;
. há sinais luminosos para os carros, mas não se vêem os que em todo o mundo ajudam os transeuntes.
Donde, afinal, nem só de petróleo vive o homem. Com efeito, e além de tudo, a queixa de que na Venezuela o que se come, e não só, é quase tudo importado, ouve-se a cada passo - e é pena. O motorista (português) de táxi que me levou ao aeroporto (...) disse-me, por exemplo, que não vai ficar. Está preocupado. O petróleo tem os dias contados e, entretanto, confessa não ver que o país se esteja a desenvolver em áreas fundamentais, como a agricultura, em especial.
É claro que isto tem pouca relação com o presente bem-estar de muitos venezuelanos e até de alguns portugueses ali residentes, mas o que conta, democraticamente falando, é a maioria que, se não vive mal agora, receia que isso aconteça amanhã.
Por amizade e respeito pela Venezuela e pelos portugueses que lá trabalham, diria, como o seu presidente, que "é necessário que a cultura chegue aos pobres", mas acrescentaria, como vi escrito na parede de uma casa de um ranchito, que "também é necessário construir casas para os pobres" e descentralizar a enorme concentração humana à volta de Caracas, criando por todo o país novas indústrias que atraiam as pessoas e as afastem quanto antes da vida em barracas que uma parte se vê obrigada a fazer. O petróleo que dá a gasolina a 1$60 tem que proporcionar mais qualquer coisa rapidamente - antes que se esgote. Para cima de 70 por cento da população tem idade inferior a 30 anos e apresenta-se, nesta década de 80, como um desafio que a Venezuela tem de vencer - com Campins, Perez ou outro -, mas vencer. E sem desumanizar mais o ambiente ou, pelo contrário, trabalhando todos os dias para a sua humanização. Espero, aliás, que seja este o sentido fundamental das palavras do presidente venezuelano ao afirmar "Mi gobierno es um Gobierno de animácion cultural".
Gasolina a 1$60?!... Quem nos dera! Mas só - não chega: "Adelante con la cultura, Sr. Presidente!" Das pessoas e ... dos campos."
Faça-se o rol do que concretizou Chavez - e anotem-se as eventuais diferenças antes de louvores ou acusações póstumas ...
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