quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Do lido, o sublinhado (41) - URSS, segundo Fernando Namora


Amanhã, 7 de Novembro, o mundo lembra (se quiser) "a marcha revolucionária que levou à instauração da primeira república socialista."

E ruadojardim7, onde pára gente de todas as religiões e credos, vai aos livros e traz para aqui uma passagem de uma obra de Fernando Namora  (URSS mal amada bem amada), escrita em 1973, na sequência de um convite feito a um grupo de personalidades para visitar a URSS.





"Como vivem e do que vivem os Soviéticos? Para que chegam os salários?

Se fizermos cálculos sem tomar em conta tudo o que neste fascinante país é secreto, é ambíguo, é paradoxal, tudo o que se passa em zonas de surrealidade esquivas à observação, deduziremos que os Russos conseguem o milagre da multiplicação dos pães a partir de quase nada, pois ganham com modéstia e frequentemente nos dão a ideia de que poderiam gastar com ostentação. E à vezes gastam mesmo.

Daí que os cronistas da URSS nos digam que existe o problema de demasiado dinheiro a perseguir muito poucas mercadorias. E outros falem de miséria.E que outros ainda prefiram filar os dentes nos tais nomenklaturistas, que têm à sua mercê secções reservadas nos armazéns Goum, misteriosos postos de venda com tudo o que há de melhor e donde são afastados os curiosos, ou a cantina do Kremlin, na qual, a troco de cédulas especiais (a badalada regalia "kremlianka"), lhes fornecem o ubérrimo "cesto da dona da casa", parente eslavo do "cabaz de Natal".

Coisas que o Russo traduz em humor negro ou semi-negro, como a seguinte anedota: Um colaborador do Comité Central recebe a visita de sua mãe, campónia num kolkose. O "apparatchik", para varar de espantos, chama-lhe a atenção para o luxo em que vive, grande apartamento, nada a ver com a regra dos nove metros quadrados por cabeça, acepipes de primeira, belos fatos. A mãe, estranhamente aflita, quer ir-se sem demora.

- Mas que é isso, mãe, então não se sente bem aqui?

- Claro que sinto, filho, mas é muito perigoso. Que sucederá se os "vermelhos" aparecem aí?"

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