segunda-feira, 7 de abril de 2014

Recortes do dito e do feito (46) - O divórcio















 De repente, acumuladas frustrações de séculos, os civilizados do Ocidente descobriram, na liberdade conquistada palmo a palmo, que essa coisa institucional e séria que é o casamento, a ligação formal entre dois seres humanos de sexo opostos, podia pôr-se expressamente em causa e dar lugar a outra situação, cómoda na aparência, que é o divórcio. E foi um ver se te avias: ignorados os compromissos, omitida a palavra dada, esquecidos os filhos e a família, tudo se passou a jogar na facilidade e, às vezes, na irresponsabilidade de uma lei que fala e consagra separações, não raro, ditadas apenas por cócegas novas em locais físicos de, por enquanto, acesso visual restrito.

Então, - dir-se-á - mas não é legítima, encurtando a conversa, a ida de cada um para seu lado, quando a vida a dois se torna insuportável? Claro que sim. Errada, porém, é a consagração, o altar que ao divórcio, em nome da liberdade, se foi erguendo. Casar está hoje a ser, à partida, analisadas algumas amostras ao dispor, um contrato com pedra no sapato.Poucos se unem "para sempre", mas, outrossim, para experimentar ... E o resultado da reserva mental criada é a dissolução a prazo do que, afinal, quantas vezes, apenas a carne (fresca) ditou. O problema, em sentido amplo, é, pois, também cultural. A perspectiva da separação possível e socialmente aceite acentua a componente sexual e faz esquecer o que na vida familiar tem que haver de comunhão mais profunda. Há assim, em muitos casos, como que somente uma vagabundagem amorosa diluída e implícita - consentida pelos costumes e aprovada nos parlamentos.O que é grave. Mas remediável - na reflexão honesta que a deve anteceder. Sempre. Nos intervalos dos formigueiros genitais de importação ou dos arrufos por dá cá aquela palha. Para que a excepção não passe a regra. E o divórcio se não transforme numa garotada geradora de seres humanos em segunda mão.

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