segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Macau 2/2: "Memória do Movimento Social de Macau"

“Tenho a responsabilidade de registar este momento da história”

 by Ponto Final
cover sulu bookSulu Sou, presidente da Associação Novo Macau, registou em livro a sua primeira experiência de detido na sequência dos protestos da Penha, a 30 de Junho deste ano. O livro está nos escaparates de uma única livraria local.

Iris Lei

Se acha que a data de 30 de Junho representa apenas a véspera dos massivos protestos que em Hong Kong assinalam a transferência de soberania, a cada 1 de Julho, então está a esquecer-se de um evento importante ocorrido no território durante o ano passado.
è Sulu Sou, presidente da Associação Novo Macau, que lhe conta o que aconteceu a 30 de Junho de 2013 numa edição de autor em língua chinesa: “Dia e Noite de 30 de Junho, Memória do Movimento Social de Macau” em tradução livre. A obra foi lançada há poucas semanas e está por enquanto à venda numa única livraria de Macau.
“Como uma das testemunhas, tenho a responsabilidade de registar este momento da história para que não seja em vão o esforço feito pelos meus companheiros audazes. Após reflexão, decidi escrever este livro que contem todos os detalhes do incidente para que os leitores possam ajuizar o que esteve certo e o que esteve errado”, escreve o autor no prólogo.
O livro, que retrata também os protestos de Maio último contra o regime de garantias dos principais titulares de cargos políticos, dedica boa parte dos capítulos a descer e a explicar as detenções de activistas, incluindo a do próprio autor, na sequência do protesto de 30 de Junho do ano passado, na zona da Penha, destinado a pedir a demissão da secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan, pelo envolvimento desta no chamado caso das campas – relativo à atribuição de sepulturas perpétuas no Cemitério São Miguel Arcanjo e onde a governante chegou a ser investigada.
Sulu Sou atribui a mobilização de algumas centenas de manifestantes, outrora “harmonizados”, à atitude “arrogante” da secretária numa conferência de imprensa ocorrida após o Ministério Público ter decidido não promover a acusação de Florinda Chan.
“Claro que os estudantes fazem barulho, mas é o tipo de barulho certo. Temos de orientá-los para o caminho certo”. O presidente da Novo Macau cita a líder pró-democracia do Myanmar e Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, como inspiração.
Apenas duas semanas após ter iniciado aulas na Universidade Nacional de Taiwan, Sulu Sou enfrentou a primeira batalha frente às autoridades policiais, também apenas dois dias depois de ter feito 22 anos.
“A polícia devia ser politicamente neutra, mas está a ser utilizada como instrumento politico para reprimir as pessoas. (...) Está a desempenhar uma missão política e não a executar a lei. (...) Caso haja um regime de responsabilização dos dirigentes, cada um de nós, tal como as nossas famílias, sairá beneficiado. Parece que estamos em lados opostos. mas todos somos reprimidos por Florinda Chan enquanto residentes de Macau” – é o discurso gritado ao agentes da polícia destacado para a colina da Penha, que Sou recorda.
Na tentativa de quebrar o cordão policial na altura, Sulu Sou diz ter sido empurrado e agredido, acabando, por fim, detido. “Tudo o que querem é estar nas manchetes dos jornais”, recorda na obra o activista sobre o que ouviu no meio dos tumultos com as autoridades.
Sulu Sou descreve com detalhe as cenas. Quatro activistas foram transportados no mesmo carro, mas proibidos de falar entre si e de usar o telemóvel. “Estamos a ser detidos?”, perguntavam sem resposta, que apenas chegou mais tarde, após horas numa sala de detenção gélida.
Sulu Sou e Bill Chou, conta, foram isolados em duas salas escuras – quatro paredes e uma câmara. Pela fresta de uma porta, o activista avistava polícias em passos apressados, na conversa (e com linguagem imprópria, descreve), falando da próxima viagem a Bali e do último modelo de carteira da Gucci.

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