domingo, 1 de maio de 2016

Às vezes ...


Às vezes, chego aqui, entro aqui, sento-me aqui e fico como que petrificado: não tenho nada para dizer, nem, no recato de um solitário banco de jardim, nada para pensar. E é então que começo a olhar à volta e, por vezes, finalmente, reparar que há árvores a crescer, plantas a olhar para quem passa, flores à espera de alguém que as veja.  E, na solidão da meia tarde, abro Vergílio Ferreira, que, em casa, estava farto de ser esquecido na cadeira que mais me conhece. E reparo-me, entre verdes provocadores,  a ler enquanto não chega pássaro que me distraia o olhar. A verdade é que trago "uma vida inteira no mínimo de mim". E, livre,  sento-me à sombra desta espécie de latada a ouvir pássaros sempre como quem escuta a humana sabedoria que aqui acaba sempre por chegar com as suas histórias, a sua visão do que leu, que é sempre diferente da que, em regra, tem "o senhor que se segue" fugido da casa onde a paisagem é sempre a mesma e cheira a fritos ou a flores com uma semana de arrancadas à Natureza que, no Jardim, é quase virgem.

Gosto deste banco. Independentemente de tudo o mais. Da monotonia de tudo o resto. Aqui sou o operador de câmara, da câmara que tenho logo por baixo do cabelo que me resta, no local onde o fui vendo nascer, anos a fio.

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