quarta-feira, 16 de junho de 2010

Na Austrália com um primo de Fernão Mendes Pinto

A esta hora, por certo, a RTP já tem gravados todos os programas da série "Os Portugueses pelo Mundo", que ontem vi anunciada. Proponho-lhe, por isso, apenas uma "adenda": se não o fez, vá à Austrália e abra os microfones e as imagens a, entre outros, BERNARDINO CADEIRAS, que ainda não há muitos anos  (espero que esteja vivo e de boa saúde), "comprava hortaliças, batatas e coisas do género que depois vendia nos mercados abastecedores de Lisboa" e...


"... como é que foi isso de, em Portugal, ter começado nas couves, depois, na Austrália, ter rejeitado as barragens e, de certo modo, a serventia no açúcar para, de repente, aparecer na construção civil?...

Sabe, um tipo que emigre não pode escolher trabalhos. Onde se ganha mais é que tem que se estar. Caso contrário, anda-se para trás...


Falei com alguns companheiros e pedi a um deles: "arranje-me um trabalho de pintor, que eu vou ver se me consigo ajeitar... Se não conseguir também não perco nada... De qualquer maneira, têm que me pagar um dia ou dois, têm que me pagar enquanto eu lá estiver, portanto, veja se me desenrasca isso..." E assim foi: o homem conseguiu-me o trabalho e eu não hesitei...


Apresentou-se...


Pedi emprestado um fato de macaco, já sujo com pingos de tinta (não levei um fato de macaco novo, não!...), e apresentei-me ao capataz como oficial pintor...


E depois?...


Acto contínuo, o fulano, honesto, passou-me para as mãos um aparelho desarmado, que, de imediato, verifiquei tratar-se de uma pistola de pintar (cada peça para seu lado: borrachas, motor eléctrico, tudo separado...). "Agora é que eu estou arrumado... Não sei por onde lhe hei-de pegar...", pensei. Entretanto, o dito capataz deu-me também um aprendiz e... "espera lá, vamos ver aqui uma coisa..." Dei sinal ao rapazito que ía à retrete e, se bem o imaginei, melhor o fiz: decidi demorar-me no W.C. o tempo suficiente para que o miúdo montasse a engenhoca... "Pode ser que quando eu voltar se perceba qualquer coisa..." Bem dito, bem feito: quando cheguei de novo ao pé do aprendiz já ele tinha montado a pistola e até andava a brincar, a fazer algum trabalho com ela.


"Olá, agora que está tudo preparado, vou então tomar conta do resto..."


Lembrei-me dos tempos de criança, no Algarve, em que a gente pulverizava a batata redonda para lhe matar o escaravelho, e, ao ver a pistola, associei... Mais a mais, tratava-se, não de pintar uma superfície lisa, mas uma rede, num parque de automóveis... Mesmo que deixasse escorrer, não se notava... "Isto é exactamente como eu fazia com as batatas... É pulverizar... Não deixar muitas falhas... " Aguentei-me e comecei. À medida que ia pintado, a coisa ia melhorando...


E o aprendiz?...

O aprendiz era só para ajudar a mudar as ferramentas de um lado para outro e, de vez em quando, dar uma
pintadela..."

in "Entre Vistas nos arredores das Montanhas Azuis", de M.A.

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