Aqui no jardim onde passo largas horas dos meus chamados tempos livres, sou, com frequência, abordado por ciganas que insistem em querer ler-me a sina. Nunca lhes fiz a vontade, mas sempre fico roído de curiosidade: o que é que uma mulher, em regra, digo eu, analfabeta, consegue saber a partir dos vincos que tenho nas mãos?... Ainda um dia acabarei por matar esta curiosidade ...
Entretanto, em feroz (e organizada) concorrência, é raro o dia em que, à porta de uma estação do Metro, não receba um papelinho de um dos, por certo, vários professores especialistas em "amor, impotência sexual, problemas de droga, alcoolismo, protecção, insucessos escolares, negócios, atracção de clientes, união de famílias separadas ou em vias de separação." Dão telefone e morada para contactos. Uns em Lisboa, outros na periferia da capital.
A vontade que sistematicamente tenho é, como julgo ser óbvio, encaminhar, de imediato, ciganas e astrólogas(os) para a área de S. Bento, em Lisboa, onde o "negócio" talvez pudesse ter oportunidade de tornar rentável - e útil, a partir de uma sondagem à boca ... à boca pequena:
Impotentes sexuais: quantos são? Leia-se virilidade (ausência de) em negociações, por exemplo.
Insucessos nos negócios: quantos e porquê?
Atracção de clientes (leia-se de investimentos): quais e em que circunstâncias?
Familias (políticas) em vias de separação inequívoca: quais (analisar o caso do B.E., por exemplo)?
Sem perder de vista a hipótese de insucesso. Tanto mais que, tudo ponderado, é minha convicção que o que temos mesmo que fazer é... é ir à bruxa ... Ou trabalhar, claro. Com o inconveniente de poder cheirar um pouco a suor...
Mas poderia ser uma sondagem (ao menos isso) interessante ... A requerer saberes catedráticos.
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