Que pode um bloguer de fresca data, por muito viajado que possa ser, na vida e nos caminhos, escrever de, eventualmente, novo, sobre, por exemplo, Siena? Mesmo não sendo estreante em Itália e tendo na "bagagem", de há largos anos, nomeadamente, Florença?
Tento ordenar as ideias. E começo por Florença, que, na auto-estrada de Roma para Siena, grita a sua presença poucos quilómetros adiante...
Florença, então, tal como a vi*...
" (...) Sai-se de Roma triunfalmente por baixo de um dos seus arcos, deixando a César o que é dele. Cá fora uma quadriga espera-nos. E é um salto a Florença. Em poucas horas, umas vezes de quadriga, parte a cavalo, avançam-se catorze séculos até à porta dos Médicis. Amarra-se o animal à entrada e vai-se a pé pela cidade. E devagar. Em cada dois passos um de distracção é, em Florença, tentar ler a enciclopédia, página si, página não. Mas ler a enciclopédia é difícil e moroso. Florença leva também uma vida a ler. Para não perder tudo, lê-se por capítulos, que é como quem diz, por quarteirões. E passam-se à frente muitos, para não omitir algumas sequências preciosas a que uma leitura só das páginas pares conduziria. É que há páginas ímpares na história de Florença. História de Florença ou do Homem? Florença é reencontro, Florença agora é ontem feito amanhã. É renascer. É futuro. Futuro é Homem. O Homem é Florença.
Miguel Ângelo esteve ontem em Florença, mas vai permanecer. David desdobrou-se da Academia e guarda-a do alto da "piazzale" do seu autor. E, do alto, Florença é medieval. Às vezes reconstruída. Ainda sem ruínas. Roma ficou para trás e é agora sinfonia incompleta. Degrau que foi escadaria. Tronco de mármore que foi coluna. Florença não. Florença é Giotto com setenta e cinco anos ainda corpo inteiro, jovem altivo contemplando a cidade do cimo do seu campanário. Florença foi uma vez Renancença e nunca mais deixou de o ser (...).
Mas, então, numa altura em que, na auto-estrada, Siena "está à vista", o que dizer?... A resposta...a resposta, passado o biombo dos prédios vizinhos da linha férrea da cidade, é só uma: a falta de palavras secas, se... se conseguir falar... Com efeito, bom é que não nos tenham dado pormenores acerca do que nos espera... A Piazza del Campo é uma síntese de História. É a lágrima comprimida, que explode de emoção.
É a alegria mal contida que não sabiamos - mesmo depois de muitas leituras...
É, para citar, da divulgação, "um pormenor": o coração de Siena, onde, em 2 de Julho, todos os anos, se realiza o famoso Palio - a festa dos dezassete bairros da cidade que "competem entre si adversários ou aliados, pela ambicionada tela de seda pintada; é uma espécie de rito em que Siena, a partir do momento do sorteio dos bairros, quatro semanas antes da corrida até ao momento da entrada dos cavalos entre cordas para a desenfreada volta final, revela o seu rosto mais autêntico e revive com entusiasmo e paixão nostálgica o maravilhoso sonho de grandeza passada".
Cito Terços e Bairros da cidade - enquanto enxugo a emoção... E fica o desafio para a visita que se propõe. Aqui, neste universo sem alma que é a NET.
Terzo di Città - seis bairros: Águia, Caracol, Onda, Pantera, Selva e Tartaruga;
Terzo di San Martino - cinco bairros: Coruja, Unicórnio, Concha, Vale do Carneiro e Torre;
Terzo di Camollia - cinco bairros: Lagarta, Girafa, Porco-espinho, Loba e Ganso.
Ver Siena e...Viver - para Voltar! Siena dos Três Vês, digo eu.
* in "À Sombra da Minha Latada", de M.A.
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