"Para o visitante português, peregrino enamorado das terras de Espanha, que procure enriquecer a sua visão do país vizinho com o saber do passado - um saber que envolva a história, a arte e a literatura -, a província espanhola mais grata ao seu coração é sem dúvida esse poético e antigo "reyno de Galicia", em cuja trovadoresca língua chorou a primeira saudade portuguesa.
Com a sua rota de Santiago de Compostela - Jerusalém do Ocidente e sonho da Europa cristã - trilhada ao longo de séculos por tantos milhares de portugueses e "gentes de toda a lengua y nación"; com a sua velha Universidade, onde tantos portugueses estudaram também, a Galiza vicejante dos "Pazos" senhoriais e das populares "alminhas", dos adustos mosteiros e das roqueiras fortalezas - a Galiza de pedra e a Galiza viva -, fala à nossa imaginação e ao nosso sentimento, como noiva do ridente Minho, berço da nacionalidade, que, no dizer do Poeta, os pais não deixaram casar.
E talvez por isso mesmo, como símbolo de paixão contrariada, da Galiza nos veio Inês, Colo de Garça, inspiradora de uma das mais belas histórias de amor do Ocidente, celebrada por prosadores e poetas, músicos e dramaturgos de toda a Europa, sem excluir a remota Polónia; e, talvez por isso mesmo, as coitas de amor português tiveram a sua primeira expressão literária nessa poética linguagem de mãe, de noiva e de irmã, que tudo isso a Galiza é para nós."
António Pedro de Sousa Leite in "Panorama", de Set./Out. 1970.
A saudade de um querido Amigo.
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