À força de vos convidar a sentar neste banco, lembrei-me de uma pequena colectânea de apontamentos publicados na imprensa que me "aturava" e de que, por conta própria, ousei fazer livro. Vou ao meu (re)encontro nas palavras de abertura escritas em 1980 - ou talvez um pouco antes. "Mandaram-me vir (é o que, generosas embora, dizem as estatísticas) - aturem-me ..."
Absentista não quero ser.
Para latifundiário não sei se tenho vocação.
Fico-me, por isso, pelo minifúndio - que é coisa, modéstia à parte, ao meu alcance. Aqui, à sombra da minha latada o concebo.
As palavras que aí vão aparecem, assim, como frutos e nasceram das sementes que, fundamentalmente, o tempo estrumou. Tentei cortar-lhes as ervas daninhas que à sua volta se formaram, mas não posso prometer, apesar disso, que o produto venha a ser de boa qualidade. É, isso sim, o melhor que, sem ajuda de ninguém, me foi possível, de momento, aprontar.
Crónicas como árvores, palavras como pêras. Algumas doces. Mas nem todas. Enfim, o que se pôde arranjar - sem subsídios, sem reformas agrárias complicadas, sem alfaias agrícolas do vizinho. Um minifúndio de vontade, feito de palavras nossas - ou nacionalizadas. Uma iniciativa privada. Por vezes, privada de iniciativa. Sobretudo, no que toca aos extremos da propriedade - onde tive que deixar crescer ortigas, que até dizem que dão um bom chá contra algumas maleitas ...
" ... Cada um dá o que tem, conforma a sua pessoa."
Eu dou um minifúndio.
Nem todos são Ramalhais Figuras.
Isto de minifúndios de letras é para quem sabe e pode e eu apenas faço parte, por direito próprio, penso, da Associação dos Pequenos e Médios Agricultores de Palavras.
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