É sabido: o leitor "desta coisa" não quer muita prosa. Bem lhe basta quando se trata de tudo o que cheira a pornografia ou a mexericos ... Aí torna-se insaciável, dizem a estatísticas Google. Não posso, por isso, tentar aqui (se para tanto tivesse engenho e arte ...) "falar" do conteúdo do livro que ganhou o Prémio Vitorino Nemésio. Aliás, quem seria eu para tamanha ousadia?!... Mas salto para o epílogo e, com ele, para aquilo que me parece ser a síntese que o autor(es) merece(m). É um final datado como, de algum modo, terá sido o raciocínio do júri que o apreciou e votou. E quem sou eu para dizer que mal ou bem. A questão estará, eventualmente, em saber-se em que medida uma situação pontual, fruto de uma época, pode, ou não, ser tomada como um caso para reflexão - sem distanciamento histórico. Se é que o que é literariamente "bem esgalhado" tem que ser sempre um retrato de alguém ou de alguma coisa ... Pela parte que me toca, não é importante, mas ... não é obrigatório haver na história ... uma moral da história ... O BELO, o Belo pode ser suficiente. Ou o fundamental. Mas não é o caso. Digo eu, que não sou critico literário.
Transcreverei em dois ou três "posts" da parte final do livro que ... que, não é belo, mas tem marca ... Outra. Para reflectir. Hoje. Ainda. Talvez ... "O que é que acha, Professor?..."
"... Os noivos vieram viver para Lisboa, onde o Ulisses se lançou num empreendimento de produção de rações para animais. Ao cabo de alguns anos de trabalho persistente, de dificuldades de vária ordem, de luta contra circunstâncias adversas, de problemas de conjuntura económica, a empresa vingou e o Ulisses passou a ter uma vida menos sobrecarregada de preocupações. Repartia-se entre a família e as actividades da empresa, o que não o impedia de se interessar pelos assuntos do país e pela forma como eles eram tratados e solucionados. Mas se os actos estritamente administrativos do Governo não o deixavam indiferente, a circunstância de os cidadãos estarem impedidos de os apreciar e de sustentar os seus pontos de vista, feria profundamente a sua sensibilidade de homem livre. Para ele a liberdade de pensar e traduzir o pensamento em acção política era imperativo de dignidade humana. A ditadura, portanto, repugnava-lhe. Embora não participasse em actividades políticas, era, contudo, hostil ao Governo e não escondia essa hostilidade. Impedir a manifestação da opinião alheia era, em seu entender, uma autêntica desonestidade, e neste entendimento fundava a sua ética política. Que autoridade - afirmava Ulisses - poderia ele ter para condenar regimes de partido único em que a consciência individual está necessariamente maneetada, se transigisse com a ditadura por mais que ela se prevalecesse de trabalhos e obras em prol da colectividade?
Ora em 1974 ..."
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