segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Gazeta a preto e branco: África do Sul ( III )




















"3 de Dezembro de 1984

Primeiras reflexões

Ainda vínhamos no avião para a "cidade branca" já, amigavelmente, o sr. Fernandes, nosso já referido companheiro de viagem, nos chamava a atenção para os cuidados a ter aqui com os assaltos. Assim que chegámos ao hotel e fizemos uns telefonemas a pessoas amigas, de novo a mesma recomendação, agora justificada com, citamos (expressão gasta, mas útil) "a vaga de desemprego que há no país".

Anotámos. Sem surpresa, aliás. A intranquilidade de que se fala parece, de facto, geral e, se chegou cá a baixo, não é de estranhar. Esperamos, todavia, que nesta Joanesburgo, hoje soalheira, as coisas ainda não tenham atingido as proporções de uma Kinshasa, onde ainda ontem vimos confirmada a experiência sentida em 1980, quanto a insegurança. Que o digam os funcionários da TAP que só abandonaram as imediações
do nosso avião quando lhes trataram da papelada, lá longe, nos escritórios, e os vieram buscar em carro próprio ...

Mas vamos à vida - que o assalto nem sempre é certo.

Desde logo, instalámo-nos na chamada zona portuguesa da cidade, o que, para além de agradável e útil para contactos com a comunidade, é garantia de quase viver em família e, portanto, sem "sobressaltos". Estamos no Rossio, cá do sítio.

Comecemos, portanto. E comecemos pelas visitas de cumprimentos, que isto de retornar quatro anos depois impõe a grata revisão de pessoas e locais arquivados nos escaninhos da memória. Aliás, como "membro eleito" da consagrada Academia do Bacalhau, temos em Joanesburgo uma larga soma de "compadres" a quem se deve, no mínimo, um fraternal abraço. A propósito, que será feito de um Manuel Escórcio, o cantor que S. Carlos ainda não ouviu - e deveria ouvir? E como estará o dr. Durval Marques, conhecido dinamizador da confraternização comunitária? E José Berardo, o madeirense que prosperou com audácia a partir, ao que dizem, de uns escassos quilos de ouro apanhados em minas quase exaustas? E toda a comunidade - madeirense e não só? Como irão, finalmente, os ânimos de 600 000 portugueses (é o número de que se fala) que aqui vivem, nos tempos difíceis que correm?"

(continua)

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