domingo, 11 de novembro de 2012

Palavras cruzadas ( XX ) - Vindimas e S. Martinho


Nota prévia: este post vai ser escrito pelo 152 000 001º bloguer mundial e irá ter o eventual interesse, ao que sei, de umas vintenas/centenas de generosos pacientes, que militam politicamente onde querem, mas que são dos que evitam os extremos de qualquer propriedade onde, aliás, aqui, como se sabe, não se tenta qualquer cultivo... Com efeito, as minhas palavras, diz a experiência, não se dão bem fora do terreno que conhecem, haja o que houver. Logo no príncipio, quando o "comprei", cheguei a ter quem, eventualmente surpreendido com o inédito de alguns produtos "hortículas" apresentados, me fez a proposta de os replicar na sua (dele) propriedade - por a minha estar ainda no princípio... Anotei, mas rejeitei. E assim comecei a "ganhar a vida", que é como quem diz a tentar conquistar o meu espaço CIBERDEMOCRÁTICO.



Mas, mas deixemos isso, que é resto do "post" anterior e vamos, não ao S. Martinho, que é hoje, mas, nestas PALAVRAS CRUZADAS, ao fecundo período que o antecede e em que, em princípio, toda a gente estava sóbria para ler:

Com Miguel Torga

Mosto, descantes e um rumor de passos
Na terra recalcada dos vinhedos
Um fermentar de forças e cansaços
Em altas confidências e segredos.

Laivos de sangue nos poentes baços.
Doçura quente em corações azedos.
E, sobretudo, pés, olhos e braços
Alegres como peças de brinquedos.

Fim de parto ou de vida, ninguém sabe
A medida precisa que lhe cabe
No tempo, na alegria e na tristeza.

Rasgam-se os véus do sonho e da desgraça.
Ergue-se em cheio a taça
À própria confusão da natureza.


Com Fialho de Almeida

"... Evoé, padre Baco!

Dentro em pouco chegarão as vindimas, festa de abundância nesses lugarejos pobres, em que os terrenos delgados não parecem felizes para qualquer outra cultura.

Enquanto o Meio-Dia e o Sul colhem e pisam a pés de homem os cachos rúbidos e opados, no lagar onde o mosto ferve, como num mistério dionisíaco, ao norte, pela encostas do Douro, sobranceiras ao rio, já se não oferece como outrora o espectáculo da verdura hilariando em vários tons esmeraldinos e os esquisitos recortes das parras, dando a ilusão de pequenas faianças de esmalte maravilhoso.

Toda essa cultura panorâmica da vinha, deitada aos ombros de montes risonhamente acidentados; toda essa cultura expirou, subitamente ferida nas exuberâncias da seiva; e em cada Inverno as tristes populaças pedem esmola, lastimando a saudade dos dias fartos!"


Até que chega S. Martinho - e tudo se esquece. Digo eu. 

Hoje é, portanto, dia de esquecimento, e, por isso, dia de pinga nova até tombar ... Hoje, é caso para se dizer, NÃO HÁ CRISE "para ninguém"...

                                        Ai dos abstémios!... Mas também dos que só têm parras...


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