"Perdida" em várias edições de A TARDE (A TARDE era um dos vários vespertino da nossa terra), a Gazeta que aqui se recupera é o relato pessoal, diria, apaixonado, de uma viagem ao país do então "desenvolvimento separado", hoje, nesse sentido, já pouco falado. Mas também é, ou pretende ser, em tempo de esquecimentos vários, memória em suporte digital, para distraídos e outros. Posto isto, como ía escrevendo ...
"- Que espera a comunidade de Durban do recentemente realizado I Congresso das Comunidades Madeirenses? - perguntámos a um industrial.
- Embora nada tenha contra a representação a esse Congresso, considero-me indocumentado relativamente ao que lá foi tratado. Contudo, vejo com o maior apreço a ideia.
- Na sua opinião, que acções deveriam ser promovidas no sentido de manter mais viva a cultura regional madeirense nesta cidade?
- Nota-se em Durban a necessidade da criação de uma Casa da Madeira, que constituisse o ponto de encontro do já organizado "Bailinho da Madeira", que foi apoiado pelo Governo Regional, e que gostaríamos de ver desenvolvido. Sentimos, em especial, a falta de livros para transmitir a história de Portugal aos nossos filhos e, inclusive, aos sul-africanos. Aproveito esta ocasião para solicitar ao Governo Regional que interceda junto do Governo Central para que melhore o ensino da língua portuguesa na província do Natal.
Juntara-se a nós, entretanto, um industrial de tabacos. Interrogado sobre o que se deveria fazer para incrementar o investimento em Portugal e, em particular, na Madeira, referiu que "a falta de planos directores a nível autárquico, a existência de uma lei do inquilinato asfixiante e de uma burocracia desencorajadora, fazem com que não seja fácil investir na terra natal".
Gerara-se animada conversa, até que, continuando na Região, mas variando de tema, perguntámos:
- Que pensa da eventual criação de uma companhia aérea madeirense?
- Face às dificuldades existentes nos voos Lisboa-Madeira, mas, sobretudo, Madeira-Lisboa, apoio inteiramente o aparecimento de uma companhia aérea madeirense, para a qual, ao que julgo saber, existem, inclusive, nomeadamente, capitais sul-africanos disponíveis.
A sondagem, entrementes, continuava. E, a propósito do fomento do turismo da África do Sul para Portugal e, em especial, para a Madeira, um comerciante madeirense disse-nos que, em termos locais, "antes de tudo, é necessário que as autoridades portuguesas ligadas a essa actividade tenham documentação suficiente para informar os interessados e, simultâneamente ... melhorarem as ligações aéreas ..."
Pensámos depois que talvez fosse oportuno retomar o tema do direito ao voto. Registámos, por isso, a opinião de um emigrante madeirense, sem cuidarmos de saber qual a sua ocupação profissional: "Como português de pleno direito, acho que devia poder participar em todos os actos que tivessem a ver com a eleição dos nossos governantes em Portugal e na Madeira."
Fora um final de dia de animado pingue-pongue verbal. Durban começara a ter a palavra que outros lhe haviam negado, ainda que sem má fé.
Notámos nesta primeira aproximação um forte desejo de colaboração connosco e de comunicação com as autoridades da Pérola distante. De qualquer modo, embora Durban seja uma cidade social e politicamente mais tranquila do que Joanesburgo, nos portugueses aqui residentes sente-se, para além das aparências, um desejo profundo de manter vivos os laços com as origens - para as quais (tudo pode acontecer) nunca se sabe se um dia haverá, ou não, necessidade de regressar.
Com efeito, alguma inquietação se esconde no espírito de quem aqui, entre os dentes, nos confessa e interroga: "tal como na Europa e noutros pontos do mundo, na África do Sul, os brancos que, antigamente, tinham seis, oito, dez filhos por casal, hoje ficam-se por um, dois, enquanto os negros continuam a proliferar, sem limites. Ora, quando quase já só houver população de cor neste país, o que será feito dos brancos que restarem?..."
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