sábado, 26 de janeiro de 2013

Gazeta a preto e branco: África do Sul ( XVII )




















"14 de Dezembro de 1984

O caminho da Esperança que foi Tormenta

Dizer que não conhecemos a Cidade do Cabo, seria faltar à verdade. Para já, em 1980, sobrevoámo-la e, se não estamos em erro, poisámos no seu aeroporto. Mas não é isso que nos confere qualquer autoridade a respeito do que dela possamos saber. A razão que nos dá o título de visitante entendido é a mesma que têm os demais portugueses que, na escola, aprenderam a ler Portugal e o seu passado das caravelas, das tormentas e das esperanças. Com efeito, a distante Cidade do Cabo é "nossa" também. Quanto mais não seja, fomos perto dela, sem medo, sacudidos e encharcados pelas águas que lhe refrescam agora os calcanhares, quando outros de lá fugiam, justamente, a ... a sete pés.

Temos hoje o privilégio de um reencontro, navegando nas entranhas de uma destas grandes e complicadas aves do século XX a que chamam aviões.

Avancemos, portanto, para o Cabo, afoitamente, que o pior já passou há séculos. Queremos prosseguir o "bailinho". Temos o visto das autoridades. Não vai, por isso, ser preciso o heroísmo de ousadias a nado, como aquelas que relatamos nesta gazeta (impressões de 5 de Dezembro) e que, frise-se, têm a nossa, não necessária, mas humana compreensão.

Onde os oceanos continuam a brigar

Chegámos ao aeroporto da Cidade do Cabo cerca da uma hora da tarde. Esperava-nos um amável madeirense. "É baixo, careca e de bigode", haviam-nos dito. Ia começar a dança. "Arrumámos a sala" e só à noite se tornou possível começar o ensaio da "festa". Iniciámo-la pela Associação Portuguesa do Cabo, cujo  presidente é, exactamente, um madeirense, que foi nosso anfitrião ocasional. Reunia-se, na oportunidade, nas suas instalações, o corpo directivo da ramificação, na Cidade do Cabo, da famosa Academia do Bacalhau, enquanto na sala ao lado alguém comentava, para nós ouvirmos, a penúria crónica da Associação e "a clássica falta de espírito associativo dos portugueses: só pagam quotas pr'aí uns cinquenta ...", dizia-se em voz alta.

Quanto ao resto, as horas foram passando e nem "ensaio" se pode afirmar que tenha existido: atrapalhação aqui, improviso acolá - nada! Salientaram-nos que é a primeira vez que alguém de um jornal diário português os visita ... Uma verdadeira tormenta que nos dias imediatos tentaremos dobrar, desde que os ventos nos favoreçam e os espíritos se iluminem e façam luz à sala - que o "bailinho" tarda ..."

Sem comentários :

Enviar um comentário

Seguidores