"Às vezes, nos meus diálogos comigo, nas tardes requintadas da Imaginação, em colóquios cansados em crepúsculos de salões supostos, pergunto-me, naqueles intervalos da conversa em que fico a sós com um interlocutor mais eu do que outros, por que razão verdadeira não haverá a nossa época científica estendido a sua vontade de compreeender até aos assuntos que são artificiais. É uma das perguntas em que com mais languidez me demoro é a por que se não faz, a par da psicologia usual das criaturas humanas e sub-humanas, uma psicologia também - que a deve haver - das figuras artificiais e das criaturas cuja existência se passa apenas nos tapetes e nos quadros. Triste noção tem da realidade quem a limita ao orgânico, e não põe a ideia de uma alma dentro das estatuetas e dos lavores. Onde há forma há vida.
Não são uma ociosidade estas minhas considerações comigo, mas uma elucubração científíca como qualquer outra que o seja."
Bernardo Soares
- Estão a perceber, cientistas, amantes e pedintes do Chiado?
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