"É tão depressa noite neste bairro
Nenhum outro porém senhor administrador
goza de tão eficiente serviço de sol
Ainda não há muito ele parecia
domiciliado e residente ao fim da rua
O senhor não calcula todo o dia
que festa de luz proporcionou a todos
Nunca vi e já tenho os meus anos
lavar a gente as mãos no sol como hoje
Donas de casa vieram encher de sol
cântaros alguidares e mais vasos domésticos
Nunca em tantos pés
assim humildemente brilhou
Orientou diz-se até os olhos das crianças
para a escola e pôs reflexos novos
nas míseras vidraças lá do fundo
Há quem diga que o sol foi longe demais
Algum dos pobres desta freguesia
apanhou-o na faca misturou-o no pão
Chegaram a tratá-lo por vizinho
Por este andar ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ..."
Às vezes, às vezes dou comigo a pensar que interesse tem para quem se senta aqui num simples banco de jardim o aparecimento de um "cara" (como diria o brasileiro que aí aparece de vez em quando...) a "recitar" poesia alheia ... Mas logo desisto da ideia "peregrina": é aqui que a poesia é necessária ... E insisto com a que outros alindaram o mundo ou tentaram alindar ... Quero lá saber de certos eruditos ... Então não houve já quem dissesse que a poesia é para comer?!... E para Ruy Belo não se pôs a hipótese dos pobres da freguesia terem misturado o sol no pão?...
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