segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Sebastião da Gama, presente!
Em véspera de novo ano lectivo em Portugal
in DIÁRIO
"O que interessa mais que tudo é ensinar a ler. Ler sem que passe despercebido o mais importante - e às vezes é pormenor que parece uma coisinha de nada. Ler, despindo cada palavra, cada frase, auscultando cada entoação de voz para perceber até ao fundo a beleza ou o tamanho do que se lê. É também de interesse primário levar os rapazes a amar as palavras - mostrar como são cheias de beleza, outras como são engraçadas, outras como são doces. Ora para amar as palavras e para, a seguir, amar a leitura, é aconselhável, como diria La Palice, não fazer desamar as palavras, nem fazer desamar a leitura. Que amor terá uma criança por uma palavra que a fez suar, levar descomposturas, levar reguadas? Nunca o Eugénio de Castro chegaria a encontrar cheia de beleza a palavra "Gomil", se os seus velhos mestres de Português, como soldados bêbados, lhe tivessem violentado a virgindade. Felizmente que, adormecida como a Bela do Bosque, não caiu nas garras de nenhum gramaticão que a desfibrasse e lhe chamasse substantivo concreto (santo Deus!), que faz o plural em is e concorda em género e número com o adjectivo que o qualifica. Talvez os rapazes de há vinte anos estejam convencidos de que "as armas" com que Os Lusíadas começa são armas de fogo e que "os barões" são descendentes dos barões de farsa de Camilo: mas dirão tintim por tintim o género, o número, a classe das duas palavras. O que fazem a um homem depois de morto!"
Que Português saberão os que, agora, daqui não passam - ou quase? Embevecidos, com o veículo, mas esquecidos de que para chegar AQUI , onde tudo parece fácil, é preciso LER, de preferência, livros feitos de papel - sem os males da pressa dos nosso tempo. "Despir cada palavra, cada frase, auscultando cada entoação para perceber até ao fundo a beleza ou o tamanho do que se lê."
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