Hoje, agora, não me apetece escrever. E também não me apetece ler. Mas entre o ler e o escrever, o que me apetece é escrever. Mas escrever acerca do desconforto dos outros, isto é, escrever sobre o meu desconforto a propósito dos outros. Dos outros que conheço. Que, dos que não conheço, só deitar-me a adivinhar (o que, no caso, até não seria difícil, mas ...) Portanto, vou falar-vos, que é como quem diz, vou partilhar convosco o meu ... apelo. E o meu apelo pode ser maçador, pode enfastiar, mas tem uma primeira página a dizer assim:
PAI PREOCUPADO PROCURA EMPREGO PARA FAMILIAR EM DIFICULDADE
Segue-se o miolo que justifica o título:
Acha que fez tudo o que estava ao seu alcance para lhe dar a formação académica que os diplomas atestam.
Acha que não falhou (mas não tem a certeza) nas naturais horas difíceis do quotidiano.
Acha que não conhece ninguém a quem pedir emprego para outro.
Acha que é injusto o assalto (dizem que não é ...) que lhe fazem ao que recebe do bolo para que descontou dezenas de anos a fio ...
Acha que estão a querer matá-lo lentamente com notícias de mais cortes sem que lhe resolvam o problema do desemprego que é como se fosse seu ...
Acha, finalmente, que não adianta escrever aqui ou noutro lado porque é uma repetição, quando não escrita, pelo menos mental de milhares de pais.
Acha que, amante de viagens, não se lembrou da família e regressou sempre donde podia ter ficado à espera dos que, íntimos, talvez estivessem agora a fazer-lhe companhia, quem sabe, numa casa à beira do Lago Leman ou nas australianas Montanhas Azuis.
Tem a certeza que vai ser lido por desempregados, mas também por outros que sabem doutros, que sabem doutros, que conhecem outros - que fazem parte dos que estão a conseguir sobreviver e dizem amar o próximo como se o próximo fossem eles ...
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