quarta-feira, 26 de março de 2014

Palavras ditas na lusa Constituinte (7)















"O Sr. Américo Duarte (UDP)

(...) reivindicamos que nesta Assembleia se respeite o nível de vida e disciplina de trabalho a que está sujeito o povo português. É por isso que propusemos que o ordenado do deputado seja equivalente ao salário médio de um operário da indústria, ou seja, 5 500$00, e que os únicos subsídios possíveis sejam os de transportes e hospedagem para os Srs. Deputados que vivam fora de Lisboa ou para despesas, devidamente comprovadas, que efectuem para contactar as massas populares, os seus anseios e as suas lutas. E mesmo estes subsídios devem respeitar o nível de vida das massas populares, quer dizer, nunca poderão ser superiores ao custo de hospedagem num estabelecimento hoteleiro de nível médio.

Esta Assembleia vai gastar milhares de contos por mês numa altura em que diariamente vem o Governo à televisão dizer que estamos a atravessar uma crise muito grave. Nós perguntamos por que é que têm de ser sempre os trabalhadores a aguentar a crise que não criaram e a apertar o cinto? Srs. Deputados, o dinheiro que aqui estamos a gastar não é nosso. Esse dinheiro é do povo que diariamente trabalha nas fábricas, nos campos e nas empresas.

Certamente que alguns Srs. Deputados se irão levantar para dizer que isto é demagogia e sensacionalismo, como já uma vez ouvimos. Mas nós afirmamos que é fácil dizer que é sensacionalismo ou demagogia reivindicar que se respeite o nível de vida do povo quando se vive em luxuosos andares em Lisboa e, ao mesmo tempo, se tem uma vivenda no Estoril ou no Algarve, ou as duas, enquanto muitos trabalhadores vivem em bairros de lata ou em casas minúsculas e abarracadas onde as rendas são mais de 60% e 70% do magro salário de que as suas famílias vivem.

É fácil dizer que é sensacionalismo quando se pode passear em BMW, Mercedes, etc, enquanto o povo tem de andar a pé ou esperar horas e horas por transportes ou, noutros casos, viajar pior que sardinha em lata. É fácil dizer que é sensacionalismo e demagogia quando se vive desafogado, com ordenados de dezenas de contos, quando se vive dos rendimentos, enquanto, por outro lado, centenas de milhares de trabalhadores vivem na miséria, sem pão para a família, por estarem no desemprego, e estas famílias não são 10 nem 50, já passam de 250 000."

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