terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

MACAU: mandarim tem cada vez mais voz em Macau

by PONTO FINAL

O mandarim está cada vez mais presente e num processo de expansão. Há quem tema, por isso, que o cantonês desapareça se não for protegido.
Inês Santinhos Gonçalves*
A língua materna de Macau tem hoje um concorrente de peso: o mandarim. O idioma nacional da China está cada vez mais presente nas ruas e nas salas de aula e há mesmo quem receie que o fim do cantonês esteja próximo.
"Se o Governo não proteger a língua, esta vai gradualmente desaparecer", acredita Stephen Matthews, professor de linguística da Universidade de Hong Kong, especialista na evolução do cantonês.
"Macau e Hong Kong eram maioritariamente dominadas pelo cantonês. A situação começou a mudar nos últimos 10 a 15 anos. Antes pouco mandarim se ouvia, era uma língua minoritária. Agora já não o é de todo", afirma à agência Lusa, por ocasião do Dia Internacional da Língua Materna, que se assinalou no sábado.
Nas ruas, nas lojas, nas escolas, o cantonês sempre foi a língua maioritária. Após a transferência de soberania, iniciou-se um processo de aproximação à China que, além de turistas e dinheiro, trouxe também um novo meio de comunicação.
Os censos de 2011 indicam que 83,3 por cento da população toma o cantonês como o seu idioma corrente, mas há um processo de mudança, dizem linguistas e professores.
"A comunidade está gradualmente a mudar de uma língua para a outra", garante Matthews.
Para o investigador, o mandarim está já muito mais presente em Macau do que na antiga colónia britânica devido ao influxo de turistas - em 2014 foram 31,5 milhões, a grande maioria vindos da China.
"Acho que se vai rapidamente tornar a língua padrão em lojas e táxis. Isso vai acontecer em Hong Kong, mas em Macau será primeiro", aponta.
Matthews lembra que a mudança linguística demora, em média, três gerações a concretizar-se, e situa os jovens de Macau a meio deste processo.
"É um processo gradual e insidioso. O cantonês vai tornar-se uma língua só falada em casa, esse é um dos passos do processo. As pessoas podem não sentir que o mandarim está a tomar conta da cidade porque a mudança é subtil", sentencia.
Um dos motivos apontados por Matthews para a migração linguística entre os mais novos prende-se com a aposta crescente das escolas no ensino em mandarim.
O professor de Matemática Jack Ng confirma a tendência: "Há cada vez mais escolas que ensinam a disciplina de Chinês em mandarim e também outras disciplinas. Há muitos professores que vêm da China e só falam mandarim".
Para o docente, "há uma atmosfera que diz que o mandarim deve ser colocado numa posição de importância".
"Nada oficial diz que vai ser a língua para ensinar Chinês mas acho que será a norma. As escolas sentem que têm de se adaptar à ideia de que há uma língua oficial", diz.
Dados fornecidos pelos Serviços de Educação e Juventude indicam que 77 das 120 escolas de Macau ensinam mandarim - oito destas usam o idioma como língua veicular, total ou parcialmente.
O linguista da Universidade de Macau Brian Chan reconhece que a língua de Pequim é cada vez mais presente, mas mantém o optimismo devido ao que reconhece ser uma grande força cultural do cantonês.
"As pessoas valorizam-no muito. Tenho perguntado aos meus alunos e eles dizem que adoram o cantonês e o querem preservar. Sem a língua sentem que a sua identidade se perde", comenta.
Chan reconhece, no entanto, que em Hong Kong a preocupação com o desaparecimento ou despromoção do cantonês é maior. "Em Hong Kong as pessoas têm medo de perder a língua para o mandarim. Em Macau as pessoas não se expressam muito".
"Não vejo um factor óbvio que indique que o cantonês vai desaparecer para já. Mas quem sabe o que acontece no futuro. Pode acontecer muito depressa", conclui o professor."
* Agência Lusa

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