Estive lá, na Alameda D. Afonso Henriques - numa janela amiga. Vi, ouvi e recordo para que, com as necessárias e óbvias ACTUALIZAÇÕES, e em paz, se viva, o HOJE, sem obrigação de AMANHÃ votar "atrelado".
"(...) Na própria edição do dia 19, o Diário de Notícias - dirigido pela dupla Luís de Barros-José Saramago - dava o mote ao bloqueio do comício na capital, com esta larga manchete "Povo e militares nas barricadas em defesa da revolução". A Intersindical convocava os trabalhadores a "integrarem-se nas barreiras". O PCP, em comunicado, ia mais longe: "É preciso cortar o passo à reacção! É necessário levantar barragens para impedir uma marcha sobre Lisboa."
Apesar das barricadas, a Alameda transformou-se num mar de gente - da Fonte Luminosa às imediações do Instituto Superior Técnico. Falando na instalação sonora, Manuel Alegre garantia que se encontravam ali 300 mil pessoas.
Durante quase quatro horas, sucederam-se os oradores, incluindo alguns deputados à Assembleia Constituinte Manuel Pires, Luís Filipe Madeira, Marcelo Curto. Lopes Cardoso, líder do grupo parlamentar do PS, denunciou a "acção irresponsável" do PCP, "semeando o ódio". Salgado Zenha, número dois socialista, disparou contra Vasco Gonçalves, chamando-lhe "um factor de divisão nacional".
Mas o mais inspirado foi Soares, que fez talvez o discurso da sua vida. "Nós não temos medo", bradou. Cada vez mais rouco, à medida que o discurso progredia, o líder socialista sublinhou "Não pode impunemente mentir-se ao povo português." Insurgiu-se contra os dirigentes do PCP, que queriam "amordaçar a voz do povo", e arrancou prolongados aplausos ao garantir: "Uma marcha sobre Lisboa só existia na cabeça desses paranóicos." Lembrou "os dois milhões e meio de portugueses que votaram no PS" e exigiu a demissão imediata de Vasco Gonçalves (...)"
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