Termina aqui esta amostragem de um livro a haver, mesmo que seja postumamente ... Não se pretendeu abrir apetites, numa altura em que "o mal da pressa", leva alguns a darem-se por satisfeitos com sínteses das sinteses que o Facebook, ou lá que é, lhes vai dando para que não passem totalmente ao lado da LEITURA e tenham assunto para café e paleio ...
Com quinze extractos do livro, como diria Vitorino Nemésio, "a que todo me dei", fica aqui, pois, um último naco de prosa que não revela o fim - quiçá menos importante do que as descrições que tentei deixar de uma certa Beira Baixa, mas, sobretudo, da Cidade-Luz, onde grandes artistas, volta não volta, terão começado a sua vida artistica quase às escuras ..."
Pois é à luz da vela que aí fica o XV apontamento do que é um livro a haver.
"(...) No primeiro dia, transpôs, por isso, ainda receoso, o guarda-vento da entrada do edifício cinzento da prestigiada instituição que deu nome àquela rua de Montparnasse, que vê entrar há décadas nas instalações da velha Academia vagas sucessivas de artistas idos de todos os continentes.
Atravessou o átrio imediato, ladeado de ateliers escorrendo fama, subiu, quase em oração, os seus gastos degraus de madeira e, logo no primeiro andar, sentiu-se, mais do que numa qualquer escola, numa Notre Dame, respeitada e venerada, em Sexta-Feira de Paixão. Tentou conter-se. Tudo o que ouvira de Lenoir produzira nele um sentimento de inibição, contrário ao que, por certo, fora desejado.
Contudo, não decorreu muito tempo até que se sentisse minimamente à vontade e passasse a tirar das sessões em que participava o proveito sonhado. "Não sou um mestre, mas, c'os diabos, consegui vender em Lisboa, num ápice, todos os trabalhos que apresentei ao público ..."
(...) Entusiasmavam-no os percursos ondulantes das modelos vivos que tranquilamente pousavam para si e para os seus companheiros de academia (...)."
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