terça-feira, 15 de novembro de 2011

Jovem, eu?...


Hoje, quase em véspera de mudar da idade, que o FACEBOOK insiste, como de costume, em querer que assinale com um gesto de ordem social ("não me apetece ..."), recebi um telefonema do cônsul de Portugal em Melbourne que começou por me dizer uma coisa gostosa: "você está um jovem! Eu, eu tenho 85 anos!..." E falámos largos minutos, como se estivessemos à mesa do ... do ... no Chiado, onde almoçámos (no ano passado ou há dois anos? ...) e pusemos a "escrita em dia"...

Mas não é esse o miolo deste apontamento. Este apontamento é apenas para ... para "dissertar" acerca da palavra ... da palavra  juventude ... A tal, aquela a que se referiu o cônsul Carlos Lemos, do outro lado da linha, a partir da terra dos cangurus. Socorro-me de Vergílio Ferreira e, com palavras do Mestre, faço o discurso:

"Quando um cataclismo acontece, há um desregramento geral. Oportunistas, salteadores, mesmo assassinos. Somos na nossa normalidade uma teia que nos liga aos outros e que a todos nos sustenta. Quanto génio se não terá criado na implícita necessidade da relação com esses outros. E a vida quotidiana, desde a porteira que nos diz bom-dia quando vamos buscar o jornal, aos inúmeros encontros e telefonemas que nos fazem existir. Mas na velhice a rede vai-se desintegrando. Cada homem realiza-se em função dos que lha estruturam. É a rede que estabelecemos na juventude e vem vindo connosco ao longo da vida. Com ela somos quem somos e a eternidade connosco. Quando um jovem se integra nela, é uma festa. Porque vem de outra zona de existir e traz-nos a ilusão ou a esperança de que também nela existimos. E é uma festa porque nos faz renascer. Mas a verdade verdadeira está noutro lado, na teia em que somos aranha, no código em que a palavra se entende.

Como falares ainda, se não há quem te entenda? De vez em quando um laço da rede desfaz-se, um amigo calou-se definitivamente. E ano a ano, mês a mês, com uma frequência proporcional ao aproximar do fim, amigos e conhecidos vão-te deixar a falar sozinho. O desprendimento ou desinteresse na velhice não tem tanto a ver contigo como com a impossibilidade de te ouvirem. Estás só, cada vez mais só. É altura de te calares, se não queres que te metam num manicómio. Porque é lá que se fala sozinho."

Ainda não é caso. Até ainda há quem me telefone longamente do outro lado do mundo, na juventude dos seus 85 ...

2 comentários :

  1. Excelente texto.Um beijo meu jovem e querido Amigo.Luísa Barragon

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  2. Ai, minha querida Luísa, que bom é ouvi-la, apetece-me dizer. Acredito no que escrevo e é por acreditar que me lancei "no outro dia" nesta aventura de estar aqui, sentado num banco que, como se sabe, é de jardim. Um grande abraço.

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