quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Josuah Benoliel - Fotógrafo

Aquilino Ribeiro in Um Escritor Confessa-se:

" (...) Na Rua de S.José, dei conta que uma tipóia avançava para nós a toda a velocidade, estacava de súbito com as máquinas às costas um homem que toda a gente conhecia, o Josuah Benoliel. Era fotógrafo da Corte e dos Ministros, dos crimes e das festas, da paz e da guerra, o fotógrafo universal que aparecia em toda a parte, evidentemente para me fotografar. Josuah Benoliel, fotógrafo beduíno, tanto tira a D. Manuel com tira a Bernardino.

Lá metia a máquina à cara, lá estudava a imagem na lente reflectora, mas antes de lhe dar tempo a disparar, erguia eu o braço a esconder a cara. Recuou mais dois passos, três passos, insistiu ... Eu então apresentei-lhe umas tão peremptórias e rasgadas armas de S. Francisco que, como o raio da morte, o puseram knock-out. Ao cruzar com ele, vi-lhe nos lábios, que eram maliciosos, um sorriso de admiração e ao mesmo tempo de apreço.

E querem saber: mais tarde, tendo ocasião de me sentar muitas vezes à mesma mesa com Benoliel, reconheci que não só não levou a mal, mas celebrava o lance pelo que tivera de imprevisto e frenético de parte do homem codilhado que não se conforma com ser objecto de exibição para basbaques nem cobiça entrar na posteridade pela porta do cavalo. E Benoliel ficou meu amigo até à morte."

Não é, talvez, este, um "discurso" a merecer Canteiro de Palavras num blogue e, muito menos, a meu ver, numa antologia, mas ... mas ... talvez valha fixar um pormenor relativo à obra de Benoliel.

Se, enquanto, em determinado momento, responsável pela Documentação de O Século, me foram feitas recomendações, há uma, dentre várias, de que, à força de repetida por um dos Pereira da Rosa, administrador da Casa, não posso deixar de recordar: "cuidado com as provas fotográficas de Josuah Benoliel: são históricas!..."

São históricas, sim senhor! Sem dúvida. Concordo. Concordei, pois claro. 

Mas a História ...

Espero, entretanto, que o  desmantelamento posterior de O Século pelas forças "progressistas" da época não tenha codilhado a memória do Benoliel que Aquilino lembrou, e bem,  no seu livro de confissões (republicanas).

Fica o apontamento. Apenas o apontamento. Que as provas devem estar em boas mãos, digo eu. "Quero" eu. Que fui dos últimos, n'O Século, a vê-las.

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