sábado, 10 de dezembro de 2011

Memórias do meu cata-vento-de Timor a Timor* (VI)


"Bom dia, Tina Nunes! Vou falar de ti e da tua pintura, com a contenção de que se deve falar dos amigos, isto é, no caso, utilizando, em parte, as tuas próprias palavras:


Fixei-me nesta terra sul-americana, inicialmente, por dois anos, em consequência do casamento. Foi-me extremamente difícil a integração na sociedade venezuelana e muito mais na comunidade portuguesa, constituída, na altura, por imigrantes muito humildes.


Após a morte acidental de um dos meus filhos, para vencer incalculável desgosto, dediquei-me inteiramente às artes plásticas. Desta maneira, comecei a integrar-me no ambiente artístico de Caracas, passo fundamental para a minha adaptação. Agora vivo feliz e agradeço a Deus por estar a realizar-me nesta terra de Bolivar e poder elevar bem alto o nome de Portugal.


Tinha Nunes, uma funchalense premiada longe das origens e em cujas telas se sente a inspiração vinda da ilha-berço, em dia de mar chão, ou ou a agressividade de uma Caracas trepidante, em fúria mesmo.


- Perigo de descaracterização? - perguntei.


- Não! No contacto da nossa cultura com a de um país estrangeiro, dá-se um processo de assimilação mútuo, mas quanto mais sólidas forem as bases, melhor se pode influenciar a cultura de que somos portadores.


Tina Nunes: cinquenta anos esmaltados de prémios. Em Caracas, a partir de 1962. Ex-aluna de Pascula Navarro, expõe desde 1968.


Aqui te deixo, em pouco espaço, para que da amizade não gotejem palavras que a Amizade não perdoaria."


* Palestra proferida em Santo António dos Cavaleiros, nos arredores de Lisboa, com apresentação, em posterior publicação, da Prof. Doutora Maria Beatriz Rocha-Trindade.

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