segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

MACAU: Hotel com "balcão exclusivo" para "check-in" de "meninas"


by Ponto Final
Apenas dois dos seis arguidos aceitaram prestar declarações em tribunal: confirmaram que o 5º e 6º andar do emblemático Lisboa era ocupado exclusivamente por prostitutas. O alojamento seria selectivo e feito por altos funcionários, segundo um dos depoimentos.
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Sónia Nunes
"Qiao Yan Yan, 32 anos, causa espanto em tribunal ao revelar que tinha uma semana de casa quando foi detida pela Polícia Judiciária por suspeita de exploração de prostituição no Hotel Lisboa. Diz que estava ainda a aprender a ser recepcionista, que não sabe inglês e que só teve tempo para ver como os outros faziam o check-in de “meninas”. “Nunca toquei com as minhas mãos [no computador do balcão]”, destaca. Mas a surpresa maior chegará na recta final do depoimento. Falta-lhe dizer que, na véspera da operação policial, tinha já competências para proibir um grupo de prostitutas de usarem os quartos por violarem a regra de ouro: nunca deixar de circular.
Nos oito dias em que “estava a aprender” a funcionar com o sistema de check-in num “balcão diferente” dos outros, Qiao Yan Yan conta que foi a segunda arguida, Kelly Wang, quem lhe traduziu aqueles códigos em inglês para chinês. Na versão do Ministério Público, eram siglas: “YSL” quererá dizer “Young Single Lady” e “P” dirá respeito a “raparigas que não eram bonitas e não foram aceites para check-in”. É verdade? “Não sei. Não consigo perceber inglês”, repete Qiao.
A arguida confirma, no entanto, que os quartos do 5º e 6º andar estavam reservados a trabalhadoras do sexo. O juiz Rui Ribeiro pergunta-lhe como sabe. “Como dizer? Uma vez que também fui ‘menina’ posso ter a certeza que sim”, confessa. Qiao Yan Yan conheceu Kelly Wang, em 2010, quando eram ambas prostitutas. A segunda arguida passou a exercer funções de “gerente da área de relações públicas do mercado especial”; Qiao era, desde 2 de Janeiro de 2015, sua assistente. São amigas.
É Kelly Wang quem Qiao Yan Yan coloca primeiro à frente do “balcão especial” a seleccionar as mulheres que poderiam subir para os quartos do hotel, “olhando para elas”. O check-in seria feito todos os dias, entre as 14h e as 14h30. O juiz tem mais questões:
- Não colocava perguntas, nem precisava de respostas? A Kelly limitava-se a ver se as raparigas tinham uma aparência que ela considerava adequada para a prestação de serviços de prostituição, e admita-as ou não?
- Creio que sim. Não era unicamente ela. O sr. [Peter] Lun e o sr. [Alan] Ho também tinham esse poder.
- Decidiam se as raparigas podiam ser admitidas?
- Sim.
Mas Qiao Yan Yan também diz que nunca assistiu a recusas de alojamento. E, quando for questionada pela defesa, vai afirmar que Alan Ho “nunca se chegou ao balcão” nos oito dias em que trabalhou como recepcionista. Em relação a Peter Lun vai dizer que não se lembra.
Como é que as prostitutas sabiam que tinham de se dirigir a um “balcão especial”? “Não sei”, responde a arguida, minutos antes de informar o tribunal que chegou a aplicar uma “pena de suspensão” de alojamento por violação das regras de conduta, que lhe terão sido transmitidas pelo departamento de recursos humanos.
“Uma pessoa que está num trabalho há oito dias e aplica uma pena de três meses não está a aprender nada. Já sabe o que faz. (...) A senhora começou com uma posição muito angelical, (...), mas sabe um pouco mais do que aquilo que nos está a explicar ou não?”, lança Rui Ribeiro. A arguida volta a expor ao tribunal as funções que tinha no Hotel Lisboa e que são assim resumidas pelo juiz: “Andava a tomar conta das raparigas que se prostituíam no hotel”.

“Sempre achei que fosse legal”

Bruce Mak, 57 anos, é a segunda excepção entre os arguidos: também quer prestar declarações e também faz saber que era contratação recente no Hotel Lisboa quando foi detido, em Janeiro de 2015. Tinha começado um ano antes como responsável máximo pela área da segurança, convencido que “não havia problema” com a prostituição no hotel. “Se houvesse, tinha deixado de existir. Sempre achei que fosse legal”, afirma.
O arguido nunca usa a expressão prostituta. Diz antes “senhoras”, “raparigas” ou “meninas” com “vestidos sexy”, e apenas presume o trabalho que prestam por ser “facto público e notório”, como reconhece o juiz. “Nunca presenciei qualquer tipo de transação [de natureza sexual]”, frisa Bruce Mak, que nega ainda existência de tratamento diferenciado para as prostitutas – “eram hóspedes” – e desmonta a tese da acusação em relação aos códigos usados entre os seguranças.
O segurança explica que que a linguagem criada servia para facilitar a comunicação numa equipa sem uma língua comum, equivalente à usada pelos seguranças da Disneylândia. “Se fosse [para avisar as raparigas de que vinha aí a polícia], teria inventado outro código, por exemplo “Vem aí o lobo” e não ‘code 1’”, ilustra.
Mas o arguido vai testemunhar que o 5º e 6º andar do Hotel Lisboa eram excepcionais também por terem um posto permanente de guardas nepaleses. Vai ainda dar conta de dois telefonemas. No primeiro, com o terceiro arguido, Peter Lun, terá recebido instruções para os seguranças “dizerem às raparigas para não descerem”, o que terá sido feito através de “linguagem gestual”. No segundo, Alan Ho “queria saber em que quarto estava uma rapariga”.

: DESTAQUE:
Arguida diz que Alan Ho, o gerente-geral Peter Lun e a gerente Kelly Wang escolhiam as mulheres que seriam hospedadas nos andares do Hotel Lisboa reservados a prostitutas."

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