sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ida e volta, volta e meia

Foto Mónica Ponce
Para uma querida Amiga, que é flor no nome e rima nos apelidos...

Quadras de trazer por casa...

Ida e volta, volta e meia
Quem me dera que assim fosse
Assentar-me por cá, à ceia
Voltar lá fora, p'ro doce

Hei-de voltar a Espanha
De Portugal em riste
Quixote, o Sem Façanha
Gonzaga*, o Peito Triste

* pseudónimo para quando calha...

Hei-de voltar a Maiorca
Dias claros, céu azul
P'ra reler Garcia Lorca
Ou de... Ramalho, John Bull

Hei-de voltar às Canárias
Comprar em primeira mão
Relógios, coisas várias
Nas costa dos rés-do-chão

Hei-de voltar a Paris
Pigalle, Latrec, Vartan
Hei-de voltar, ser feliz
Bonjour, Quartier Latin

Hei-de voltar à reinação
Do Mónaco, que tem princesa
Pugnar p'la civilização
Mas com dinheiro à francesa

Hei-de voltar à Bretanha
A inglesa, a de "mister" John
Não digam, isso é patranha
Vinde comigo, "come on"...

Hei-de voltar à Escócia
Dos castelos ao luar
Olhar a paisagem sócia
Do Minho do meu altar

Hei-de voltar, bela Veneza
Terça-feira de Carnaval
Quem sabe se, por gentileza,
Te vejo gota em cristal

Hei-de voltar a Atenas,
Ai deusas do Paternon!
Mulheres? Não apenas,
Monumentos, luz, som.

Hei-de voltar à Suíça
Ponteiro, maçã, quartel
Mas tanta ordem, chiça!
Nem eu, nem tu, nem Tell...

Hei-de voltar a Bruxelas,
Cruzamento europeu,
E de Cristo, enfunar velas
Risonho, sem nada de meu

Hei-de voltar ao Grão-Ducado
Ao Luxemburgo português
Pouca terra, bigorna, fado
Matar saudades, sem ir de vez

Hei-de voltar, Roterdão
Porto de velhos amores
E depois a Amsterdão
Ronda da Noite e flores

Hei-de voltar a Munique
Beber cerveja a granel
P'ra ver a Alemanha chique
Numa orgia de bordel

Hei-de voltar a Viena
Ao Danúbio a valsar
Que tudo merece a pena
Quando o azul é nosso par

Hei-de voltar a Moscovo
Lenine já derrubado
A Rússia é do povo
Herói, valente, soldado

Hei-de voltar, mamã Sereia
À Dinamarca, de calção
Avô Andersen na ideia
Amor de pai no coração

Hei-de voltar à Suécia
A das loiras, que sei eu...
Figuras d'antiga Grécia
Sonhos de qualquer Romeu

Hei-de voltar à China
Disfarçado de Macau
Com uma vontade canina
Aos compadres de Mao...

Hei-de voltar à Tailândia
Dos sorrisos e mistério
Pedaços de Disneylândia
E brincadeiras a sério...

Hei-de voltar, Montreal
Como De Gaulle, sem vaidade
Morto mas vivo, actual,
Aos gritos à liberdade

Hei-de voltar a Timor
Libertado há-de ser
Pacto de sangue e amor,
Verde rubro, renascer

Hei-de voltar. Regressarei?
Gostaria de lá ficar...
Onde? Digam! Riam! Não sei!...
Talvez num monte, ao luar...

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