quinta-feira, 28 de outubro de 2010

"Quarto de despejo" - "Quem escreve isto é louco"

"O dia vinha surgindo quando eu  deixei o leito. A Vera despertou e cantou. E convidou-me para cantar. Cantamos. O João e o José tomaram parte.

Amanheceu garoando. O Sol está elevando-se. Mas o seu calor não dissipa o frio. Eu fico pensando: tem epoca que é o Sol que predomina. Tem epoca que é a chuva. Tem epoca que é o vento. Agora é a vez do frio.E entre êles não deve haver rivalidades. Cada um por sua vez.

Abri a janela e vi as mulheres que passam rapidas com seus agasalhos descorados e gastos pelo tempo. Daqui a uns tempos êstes palitol que elas ganharam de outras e que de há muito devia estar num museu, vão ser substituidos por outros. É os politicos que há de nos dar. Devo incluir-me, porque tambem sou favelada. Sou rebotalho. Estou no quarto de despejo, e o que está no quarto de despejo ou queima-se ou joga-se no lixo.

... As mulheres que eu vejo passar vão nas igrejas buscar pão para os filhos. Que o Frei Luiz lhes dá, enquanto os espôsos permanecem debaixo das cobertas. Uns porque não encontram emprego. Outros porque estão doentes. Outros porque embriagaram-se.

... Eu não preocupo-me com os homens delas. Se fazem bailes eu não compareço porque não gosto de dançar. Só interfiro-me nas brigas onde prevejo um crime. Não sei a origem desta antipatia por mim. Com  os homens eu tenho um olhar duro e frio. O meu sorriso, as minhas palavras ternas e suaves, eu reservo para as crianças.

...Tem um adolescente por nome Julião que as vezes expanca o pai. Quando bate no pai é com tanto sadismo e prazer. Acha que é invencivel. Bate como se estivesse batendo num tambor. O pai queria que êle estudasse para advocacia (...) Quando o Julião vai preso o pai acompanha com os olhos rasos dagua. Como se estivesse acompanhando um santo no andor. O Julião é revoltado, mas sem motivo. Êles não precisa residir na favela. Tem casa no Alto de Vila Maria.

... As vezes mudam algumas familias para a favela com crianças. No inicio são iducadas amaveis. Dias depois usam calão, são soezes e  repugnantes. São diamantes que transformam em chumbo. Trasformam-se em objetos que estavam na sala de visitas e foram para o quarto de despejo.

... Para mim o mundo em vez de evoluir está retornando a primitividade. Quem não conhece a fome há de dizer: "Quem escreve isto é louco". Mas quem passa fome há de dizer:

- Muito bem, Carolina. Os generos alimenticios deve ser ao alcance de todos."

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