"Chegada a Neuchatel às 10.50.
Fora das cidades, são raras as antenas de televisão.
A loira teve tosse e foi obrigada a chorar. As lágrimas desfizeram-lhe a anilina azul dos olhos e ela, envergonhada, azulada, foi lavar-se e...pintar-se, decerto.
O bilhete foi visto pela 4ª vez. O aquecimento do combóio começou a funcionar. Óptima temperatura.
Paragem em Solothurn. Os garotos que andam a brincar estão bem vestidos.
Há quem ande a arrancar batatas.
Não tomei o pequeno almoço e por isso bebi uma garrafa de chocolate no bar do combóio.
Cemitérios de automóveis.
Extensas florestas.
O bilhete foi revisto de novo..
Cheguei a Zurique, onde deve aparecer o Eng. B.O..
Entretanto, fui fazer a barba no barbeiro da estação. Puseram-me Pitralon, que foi a única "water-shave" que consegui perceber na lista, em alemão, "debitada" verbalmente pelo barbeador.
Depois de quase duas horas de espera, finalmente, surgiu-me na estação o Eng. B.O. que tinha ficado de aparecer aquando da minha chegada.
Na estação, um miúdo com cócegas nervosas no nariz, vê um filme numa máquina.
Almoço no restaurante da 2ª classe da gare de Zurique: sopa de aves e salsichas.
Descubro, entretanto, que no WC pode fazer-se a barba por 1/2 fr...
O bar da estação tem uma porta que se abre sozinha quando alguém se aproxima dela.
Encontro o primeiro bêbado, desde que saí de Lisboa.
Às 19.30 deixo Zurich, já acompanhado, num belo Buick, e fomos jantar a um restaurante a caminho de Glarus. Comi principescamente. E fiquei instalado, em plena montanha, num quarto com casa de banho privativa Com tudo, tudo... Fantástico!
2/10: Tomei um belo banho e fui à janela tirar duas fotografias.
Zurique, que ficou para trás. É uma cidade muito bem iluminada. As raparigas são bonitas, elegantes, mas nada espaventosas.
O exército, com 30 000 homens, vai, em breve, para manobras.
Estou esmagado com tanta gentileza de quem nos recebe.
Hoje o almoço no hotel Schwert, em Näfels, foi extraordinário: um "consommé", uma bela peça de caça com ananás, pêra e bocados de farinha. Sobremesa gigante com um gelado de creme de noz e outros frutos. Foi em grande, em muito grande!...
São, entretanto, 19.20 e há 10 minutos que estou no hotel de Berna. Hoje não janto. Fiquei com dor de estômago.
No tempo de Hitler, dizia-se que a Suiça poderia resistir dois anos só a fazer guerrilha nas montanhas.
Os dois patrões da Tschudi & Cie., com quem almoçámos, vão dentro em breve para manobras. São homens dos seus 45 anos.
Estou agora no hotel Continental - Garni, no quarto 27. Tenho a telefonia acesa. A má disposição já quase passou... Tenho água quente e fria. Junto ao espelho do lavatório há papéis para os homens limparem as lâminas e as senhoras os lábios.
A criada de quarto do Continental é da pátria da Gina e da Sophia...
Estive a ler dois contos policiais: "Estricnina na sopa" e a "Caça aos fantasmas".
Confirma-se que não há sabão nem sabonete nos hotéis suiços."
Pormenor de um óleo de Emília Alves |
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