in "As Farpas", de Ramalho Ortigão
"... Na grande maioria dos círculos eleitorais do país, continente e ilhas, todo o eleitor que não vende simples e chãmente o seu voto por dinheiro, vende-o por serviços, por bondades, ou por favores pessoais, ao pároco, ao escrivão da fazenda que cobra a décima, ou ao agente do recrutamento que manda prender para soldado.
À pressão oficial acresce ainda a pressão do compadrio local. Na ilha da Madeira, cujos interesses são neste momento representados no parlamento pelo deputado Manuel de Arriaga, o compadrio tem sobre a livre expressão da vontade do eleitor uma influência ainda mais despótica do que a da própria autoridade constuítída. O pequeno agricultor madeirense arrenda a terra que lavra a um compadre, arrenda a casa em que mora a outro, arrenda a água com que rega a um terceiro. Quando o dia funesto da eleição chega, o dono da água comparece com uma lista, o dono da terra com outra, enquanto o dono da casa chega por seu turno para proibir o seu inquilino de ir votar."
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