"Dominguiso, 18 de Junho de 2006
Querida Mónica
Olham-se os campos, as aldeias, as casas, os quintais e o que se vê são metades... Nos campos, o "já não vale a pena"; nas aldeias, os automóveis (amarelos e com muitos extras...) que, facilitados pelos corredores de asfalto, levam mais do que trazem...; as casas...desdentadas, mas com os dentes de ouro na frente...; os quintais, esses, às vezes, bem desenhados, mas, em regra, com o tempo, cemitérios de plantas que tinham nome, cor e cheiro.
O que abunda são intenções, nascidas mais da inveja entre vizinhos do que concretizada a partir de... Exacto. Falta crescimento interior. Já cá cantam, sem contar com a pré-história, vinte e um séculos, e estamos assim no interior - no interior da nossa terra, que é como quem diz, no nosso interior, porque é aqui que está o busílis... As metades que aparecem são, na circunstância, o possível, diria, o máximo que o grande motor da cobiça consegue dar à luz.
Falam-nos de vagas de gente nova a chegar e há quem acredite na agricultura do futuro, no ordenamento futuro do território, numa arquitectura com passado e futuro, em quintais com flores vivas e cuidadas. E assim vamos... De metade em metade... Poucochinhos...heróis do lar, pobre povo, coração quente...
Precisamos de camadas de juventude que revolucionem isto. É urgente a aplicação persistente do melhor do que se aprende nos manuais. Há por aí muitas metades a reclamar mão-de-obra com cabeça fresca. É tempo de netos. (...) Contra os calões, lutar, lutar!..."
* À espera de editor.
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