quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Geografia - Aguarela Italiana 3














"( ... ) História de Florença ou do homem? Florença é reencontro. Florença agora é ontem feito amanhã. É renascer. É futuro. Futuro é homem. O homem é Florença. Miguel Ângelo esteve ontem em Florença, mas vai permanecer. David desdobrou-se da Academia e guarda-a do alto da "piazzale" do seu autor. E, do alto, Florença é medieval. Às vezes reconstruída. Ainda sem ruínas. Roma ficou para trás e é agora sinfonia incompleta. Degrau que foi escadaria. Tronco de mármore que foi coluna. Florença não. Florença é Giotto com setenta e cinco anos ainda corpo inteiro, jovem e altivo contemplando a cidade do cimo do seu campanário. Florença  foi uma vez Renascença e nunca mais deixou de o ser. Nem deixará. O homem não pode destruir o homem. Miguel Ângelo não matará Leonardo, Rafael não hostilizará Ticiano. Botticelli viverá. A Primavera não pode morrer. Dizem até que, quando os Uffizi e o Pitti fecham as portas ao público, descem das suas paredes milhares de figuras que percorrem Florença de olhos semi-cerrados por causa da luz eléctrica das ruas e vão à Sacristia Nova de S. Lourenço convidar os Médicis para um passeio até à Praça da Senhoria.

Aí se reunem então todos sob o olhar atento de David mais uma vez reproduzido, no meio de flores vermelhas e rosa com que Botticelli ornamenta todas as noites, mesmo de Inverno, a bela praça. Surge então Dante que recita a Divina Comédia. Depois, uma das figuras dos Uffizi ou da Pitti é convidada a falar do seu autor, que nunca deixa de comparecer. O serão termina, em regra, com Miguel Ângelo lamentando-se das obras que não conseguiu acabar.(...)"

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