quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Geografia: Munique 2 *












"(...) Aliás, Munique não só sabe beber, como não se esquece de ter a caneca numa mão e uma rosa na outra. Munique é uma cidade civilizada. Sem deixar de parecer uma provinciana estilizada. Condição de que, afinal, dá a imprensão de que se orgulha. É mesmo vulgar ver na rua as suas gentes vestidas à maneira bávara. Como nunca vi em Viana do Castelo, em dias que não sejam de festa, os homens e as mulheres do Minho trajando à sua moda.

Mas adiante. Munique é Munique. Viana é Viana. A Alemanha é a Alemanha. Portugal é Portugal. Também Lisboa tem (sem que isso em si seja um mal) ruas dos Fanqueiros e largos de S. Paulo por todos os lados e em Munique só se vêem rua Augustas e Garrett a cada passo. Mas largas, lavadas. iluminadas, mexidas, organizadas, bem vestidas, soltas, planas, nalguns casos, só para peões. Não se pode dizer, apesar de tudo, que nada na nossa terra é melhor do que em Munique. Não. Em Lisboa, por exemplo, o Jardim Zoológico surge-nos com outro interesse.Na verdade, temos excelentes animais - e bem instalados...

Quanto ao resto, ficamos, quase sempre, a perder. Como é o caso do trânsito que em Munique é impecável. Verde é verde, amarelo é amarelo, vermelho é vermelho. Afinal, o problema é sempre o mesmo: educação. Apesar de Munique só saber alemão e Lisboa ser poliglota, a sua correcção nota-se no mais pequeno gesto. Dir-se-ia que Munique não sabe línguas como Lisboa - mas sabe maneiras. E, às vezes, o gesto é tudo ...

Alma sã em corpo são, Munique é também olímpica, não por, de facto, já o ter sido, mas por que está habituada à disciplina do cronómetro, à confraternização e à sadia camaradagem. É vê-la, em particular, aquando da Oktoberfest - mais olímpica do que nunca - em que canta, ri, dança, abraça, bebe sem perder o controlo, na maioria das vezes. Por essa altura, aliás, Munique em peso - mulheres e homens - despeja quanta cerveja haja em "stock". Raros são, no entanto, os que caem embriagados. Há como que uma bebedeira colectiva mas, como toda a gente dá o braço a toda a gente, ninguém chega a cair. O que se forma é uma espécie de dança lateral, ora para a direita ora para a esquerda, a que a largueza das ruas dá, aliás, perfeito cabimento. Tudo se passa, porém, sem complicações e Munique continua a trabalhar horas depois. Sem Hitler, embora com um ou outro arremedo de Estaline, brincalhão e filho-família cansado de bem-estar.

No fim de contas, a Alemanha que a guerra destruiu, e foi ruínas, é jacto e equilíbrio mas chega a parecer que sente saudades do coche e do recomeço. Não das ruínas. Não de Hitler. Refiro-me a maiorias, obviamente. E não a alienados mentais, que os há por toda a
parte (...)"

* in À Sombra da Minha Latada de M.A.

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