sexta-feira, 2 de março de 2012

A Austrália por quem a vive ( II )

LÍNGUA PORTUGUESA










Pintor naif: "Sou um cidadão do mundo, fiel ao movimento operário, ao movimento dos que não têm palácios, automóveis, aviões ..."

Professora: "Toda a minha vida é a língua portuguesa."

Cônsul Honorário:  "A língua portuguesa é um problema. Claro que os mais antigos continuam a falar português, até porque, muitos deles, nunca aprenderam a falar inglês. Porém, a segunda geração, essa, é um problema, porque acaba por perder a língua portuguesa. Há uma tentativa de evitar isso, através de escolas étnicas que funcionam, praticamente, uma vez ou duas por semana, com dificuldades ... Há falta de comunicação, falta de diálogo em português e, assim sendo, depois de algumas gerações, há o perigo de, gradualmente, a língua portuguesa desaparecer. Ou perder ímpeto."

Assistente social: "Falta ambição a muitos pais em relação aos filhos, que não são encorajados a seguir cursos de longa duração. De uma maneira geral, os portugueses o que querem é que os seus descendentes terminem a escola obrigatória e arranjem trabalho como mecânicos, carpinteiros, se forem rapazes, e como secretárias de advogados (é o ideal), se forem raparigas."

Comendador: "Em minha casa, mantemos a língua portuguesa a um nível razoável, apesar de se perder cada vez mais. Para dizer a verdade, nem sempre falamos português com os filhos. O mais pequeno, enquanto não entrou no esquema escolar oficial, só falava português, mas uma vez entrado no ambiente escolar geral, teve, como outros miúdos portugueses, uma grande dificuldade em continuar a exprimir-se na nossa língua.

Aliás, lê-se pouco. Transparece a herança que as pessoas levaram consigo: nos anos 60/70, muitos dos que foram nem à escola tinham ido ... Parte dos livros que temos no clube português ainda não foram sequer abertos ..."

Cronista social: "Começo a pensar que não sou nem português, nem australiano. Estou no meio de uma coisa ..."

Reformada: "Tenho um neto de pai italiano, que compreende o pai, compreende a mãe, compreende-me a mim, mas responde-nos ... em inglês."

Imigrante por amor: "É preciso ver que português é que falam em casa ... A meu ver, é um português sarapintado de anglicismos, um português polvilhado de inglês."

Taxista: "Sou português e vivo assim muito satisfeito! Nunca vou deixar a minha nacionalidade. Acho que vai comigo para a cova."

2 comentários :

  1. Acerca do “comendador” (acima) que desconheço quem seja, apenas um comentário sobre a “desculpa” da dificuldade em manter a educação dos filhos… … …

    Quando eu e minha esposa viemos para a Austrália, em 1980, vieram também duas filhas e um filho, com idades de 17, 12 e 6 anos ainda incompletos. A mais velha falando já inglês, pois estava para entrar na Universidade, a outra terminara a escola primária e o filho não tinha sequer ainda nela entrado. Estes dois falando apenas português.

    Aqui na Austrália, formaram-se, concluindo os seus cursos, em Medicina, Advocacia e Ciências Informáticas, onde tiveram de o fazer na Língua Inglesa, como é lógico.

    Porém nenhum deles deixou de falar Português enquanto viveram connosco, ou seja até terminarem os seus cursos. Apenas o meu filho frequentou a classe de português quando ainda na escola primária.
    Tivemos sempre o interesse e sentimos a obrigação de os manter conhecedores e praticantes na primeira língua que aprenderam, de forma que passados todos estes anos a continuam a dominar e poder exprimir-se na sua língua de origem, falando e escrevendo.
    Isso se deve a que nós, os pais, sempre consideramos a educação dos filhos acima de outros preconceitos como o do snobismo ou desprezo pelada nossa própria língua.

    Durante cerca de 5 anos na Holanda, onde vivemos durante a minha especialização, a minha filha mais velha, nessa ocasião com 5 anos de idade, ingressou na escola holandesa onde fez parte da escolaridade primária, naquela língua. No entanto em casa foi preparada para que durante as férias anuais em Portugal pudessem ser avaliados os seus conhecimentos da língua portuguesa e outras disciplinas que eram necessárias para o seu currículo escolar ser reconhecido. Nessa altura não havia nem se pensava em “escola portuguesa”.

    Quero com tudo isto dizer que tendo o Governo Português o dever de ajudar aqueles que vivendo fora do seu país e queiram manter a Língua Portuguesa, o faça “fornecendo” os professores necessários e se possível outros auxílios de ordem educacional, mas que os pais, mais que ninguém, sejam os responsáveis e acima de tudo os mais interessados na sua própria educação, e muito mais a dos seus filhos.

    Manuel da Costa

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pela sua intervenção. A personagem a que se refere é ficcionada, mas SINTETIZA, não um caso, mas o que, lendo, de ponta a ponta, o ENTRE VISTAS NOS ARREDORES DAS MONTANHAS AZUIS, se pode concluir. Um abraço.

      Eliminar

Seguidores