terça-feira, 11 de março de 2014

Recortes do dito e do feito (32) - TACHO, PRECISA-SE *

Originalmente, publicado pelo signatário, em 21 de Abril de 1996, no Diário de Coimbra, com eventuais adaptações a gosto a fazer por quem o ler, aí vai o "recorte":



Em nome de uma legitimidade extraída de textos divulgados no melhor estilo do verso das apólices de seguro que ninguém lê, ouvi dizer que, contra a proclamada figura centralizadora do Terreiro do Paço, querem retalhar o nosso secular e pequeno Portugal em naçõezinhas com poderes próprios e, portanto, novos cargos (leia-se tachos) políticos.

Português que sou, independente que, como tal, me conhecem, não desejaria entrar, para além de limitados limites, em tão magna discussão, até porque, confesso, o assunto, de certo modo, me agrada, na medida em que, sendo homem com "idade para ministro", vi na ideia produzida algumas hipóteses de, finalmente, ter acesso a um ou vários tachos políticos, que, tudo indica, em nome da tal descentralização, irão criar-se de norte a sul do país. Permita-se-me, por isso, que, enquanto cidadão maior de idade e no pleno uso dos direitos que a Constituição me confere, apresente aos meus compatriotas, com a mais antecipada margem possível (...) a candidatura a qualquer (jeitosos, já agora ...) dos altos cargos a haver.

Como, entretanto, ignoro as naçõezinhas que vão ser paridas, aceite-se com naturalidade que me faça a mais do que uma delas, dizendo, de imediato, que:

a) Nasci em Lisboa, onde vivo há umas décadas, pensando saber alguma coisa da cidade dos corvos, embora não frequente a 24 de Julho, do Jardim da Estrela conheça os cisnes (e o banco...), dos Passos Perdidos tenha apenas ouvido falar e do Terreiro do Paço distinga, do cavalo, sobretudo, o traseiro ...

b) Relativamente à Região Centro posso afirmar-me, pela ascendência, beirão, amante das gentes e da paisagem locais, embora sem ligações, que eu saiba, por exemplo, à progressiva cidade do Fundão (...);

c) No que respeita ao espaço alentejano, as minhas referências podem ser encontradas no casamento, mas aí talvez seja mais difícil - temos que ser realistas - pois a ideia pode ser criar na região léguas de paisagem vermelha e eu, na intimidade, torço unicamente pelo Benfica. De qualquer maneira, se for preciso ... Será uma questão a ver ...

d) Finalmente, por ter uma neta algarvia, admito não exagerar se disser que, se o sr. Vitorino não absorver o eventual parlamento local, poderei ser, a norte de Marrocos, um bom candidato, tanto mais que não rejeito a governação de costas para o mar - em especial, no Verão. Penso que, na circunstância (já estou em campanha ...), antes um lisboeta (quase) genuíno no poder algarvio do que um  qualquer rafeiro John Bull a brincar connosco -. católicos e protestantes.

E era isto que queria dizer-vos hoje. Sem falta e sem gralhas no texto, espero.


Pê Ésse:
Embora tenha consciência de que vou dificultar as coisas, por uma questão de honestidade, informo que não me revejo completamente analfabeto.

Para alguma falha, esclareço ainda que tenho amigos em todos os recantos de Portugal, dispostos a darem-me o seu amável e, de certo modo, comovente voto, enquanto me assumir como independente."

Comentário que, neste mundo sisudo e Portugal fadista, me enche de alegria - sobretudo pela simpatia e amizade. Continuemos.


Neste país de presente e futuro sombrios em que as intervenções dos representantes (?) dos diferentes quadrantes políticos me obrigam, cada vez com mais frequência, a fazer zapping e ir ver o National Geographic, só o caro amigo me faria rir com gosto. Os colunáveis políticos já nem um triste sorriso me arrancam...
Além disso, estou convencida que o amigo desempenharia, com muita mais competência e sem alarde, qualquer cargo que não fosse tacho....

Quero agradecer-lhe as notícias que me tem enviado sobre Macau. Estive lá em abril do ano passado. Fomos de barco de Hong Kong ( meu filho terminou aqui o MBA), almoçámos em Coloane, no restaurante português O Fernando. Além de água Carvalhelhos, tem azeite Oliveira da Serra para temperar as batatas cozidas e os chocos grelhados...come-se bem, não é barato...
Visitámos as ruínas de S.Paulo e respetivo museu, descemos a rua principal - onde  tentei comer um execrável pastel de nata - que vem dar a um largo com edifícios que assinalam a presença portuguesa pela traça e pelos nomes escritos em português arcaico. À volta, só se ouvia falar cantonês. Invadiu-me uma certa nostalgia de um país que já não existe....resta-nos o consolo dos documentos como os que me envia, as amizades, por certo...afinal a nossa presença não foi completamente em vão.

E quanto aos doutoramentos dos estudantes chineses, só quem anda muito distraído é que não se apercebe do que se está a passar... os chineses apostam na educação de forma exigente. Para os jovens já não é suficiente um mestrado...avançam para os doutoramentos, e se as famílias conseguirem, colocam-nos no estrangeiro a estudar, em Universidades conceituadas, nos Estados Unidos, em algumas na Europa...
Os que regressarem à China, vão substituir os estrangeiros que desempenham, agora, cargos de topo. A seguir, porque já estão em África, nos Estados Unidos e na Europa,  se os europeus continuarem a aceitar, como acontece em Inglaterra, indivíduos de fracas competências escolares e profissionais, resta-nos perguntar, com resposta óbvia: QUEM VAI MANDAR NO MUNDO DAQUI A 20 ANOS?
Tal como diz "sem armas sem tiros..."

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