Milhares de pessoas dobram, diariamente, a esquina da Livraria Portuguesa. Há 30 anos instalado no centro de Macau, o estabelecimento é um marco para a cidade e , sobretudo, para quem lê em português.
Catarina Mesquita
"O edifício amarelo da Livraria Portuguesa ostenta uma das montras mais apetecidas de Macau e é um ponto de encontro privilegiado. Quem nunca disse: “Encontramo-nos frente à Livraria Portuguesa?”
Mas o estabelecimento é mais do que uma simples livraria. Lá dentro, o cheiro dos livros novos mistura-se com páginas há muito impressas que contam histórias de amor em prosa ou poesia, memórias de outros tempos e lugares ou até mesmo com a evocação escrita de apetecidas iguarias culinárias dos quatro cantos do mundo.
No recheio da Livraria, as palavras em português não estão confinadas às páginas das centenas de volumes que preenchem o espaço que ontem apagou trinta velas. Para João Laurentino Neves, director do IPOR, a Livraria Portuguesa é e sempre foi um “espaço de língua e cultura que ajuda a fixar a memória de Portugal”.
A concessão de exploração da livraria, actualmente ao cargo da Praia Grande Edições, tem dado a Ricardo Pinto a alegria de poder estar entre uma velha paixão: os livros.
“Tem sido uma experiência muito rica para estarmos ao corrente do que se vai publicando em português e também tornar as publicações acessíveis à comunidade lusófona de Macau”, conta o editor.
Manter viva a Livraria ao longo de três décadas e, em especial, nos últimos cinco anos exigiu uma aposta frontal na promoção de outros eventos. Ricardo Pinto lembra que o espaço não é só um espaço “de promoção do livro, da leitura e da literatura” mas também de “promoção da arte e cultura”, com a organização de exposições, colóquios e seminários.
Em termos de negócio, Ricardo Pinto lamenta que “a livraria não seja tão rentável como se esperaria”, mas sublinha o interesse cada vez mais visível da comunidade chinesa em obras escritas na língua de Camões, sobretudo em dicionários e em manuais de ensino do idioma.
Jorge Morbey fez questão de se associar à celebração dos trinta anos da Livraria Portuguesa e recordou alguns episódios pouco conhecidos da história da criação do estabelecimento. Então presidente do Instituto Cultural, Morbey recorda entre risos o primeiro projecto delineado para a livraria, no espaço onde hoje está instalada a biblioteca Sir Robert Ho Tung: “Quando lá chegámos aquilo parecia mais um espaço para uma camisaria do que para uma livraria. Só depois encontramos este espaço”, sublinha.
Depois de vários avanços e recuos, a livraria instalou-se onde ainda hoje recebe diariamente dezenas de clientes: “A Livraria abriu no dia seguinte às comemorações intensas do 10 de Junho [de 1985]. Nessa noite, eu e a minha família ficamos a preparar tudo, a colar etiquetas de preços até às tantas da manhã para que no dia seguinte fosse feita a inauguração”.
E a abertura oficial ocorreu sem problemas. A 11 de Junho de 1985, a Livraria Portuguesa abriu as portas, para uma aventura que leva já três décadas. Responsável pelo espaço há cerca de cinco anos, Ricardo Pinto mostra interesse em manter o estabelecimento sob a alçada da Praia Grande Edições, agora que a concessão do projecto, decidida em 2010, se encontra na recta final: “A situação da concessão ainda não está definida mas há vontade de renovar e conduzir alguns projectos que já temos guardados há algum tempo”, assegura Ricardo Pinto, que deixa claro que, se depender de si, um dos ícones da presença portuguesa em Macau não se esvanece no tempo e continuará a fazer história."
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sexta-feira, 12 de junho de 2015
Macau 1/2: Livraria Portuguesa resiste à passagem do tempo
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