by Ponto Final |
Ana Jorge, bisneta de Camilo Pessanha, recusa veementemente a ideia, proposta por uma petição que agora é analisada na Assembleia da República, de transladar os restos mortais do poeta simbolista para o Panteão Nacional, em Lisboa.
“Nós aqui temos outro pensamento, mais asiático, e nestas coisas não mexemos. A campa está assim há muito tempo, não quero mexer”, afirmou Ana Jorge à agência Lusa.
A bisneta de Pessanha lembra que, além do poeta, o túmulo acolhe também o filho, João Pessanha, e a sua mulher, que era chinesa, o que reforça ainda mais a impossibilidade de se perturbar a campa, adquirida pela sua família.
“Se tivessem pedido há mais tempo, a minha mãe decidia, mas agora já morreu”, comentou a octogenária, referindo-se a Maria Rosa dos Remédios do Espírito Santo, que tinha 12 anos quando Camilo Pessanha morreu, a 1 de Março de 1926.
Perante a petição, a comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto disse querer conhecer melhor os motivos do pedido de trasladação antes de dar um parecer final.
A presidente da comissão, a socialista Edite Estrela, afirmou que Camilo Pessanha (1867-1926) foi “um grande poeta, nomeadamente do simbolismo” e “justifica-se” a trasladação para o Panteão, mas alertou para a necessidade de se encontrar uma estimativa dos custos, antes do parecer ser entregue à conferência de líderes parlamentares.
A deputada socialista Gabriela Canavilhas defendeu que o túmulo do poeta em Macau “é um marco da presença e da memória portuguesas”, acrescentando que “o túmulo é algo de tangível”, e rematou: “Não me parece, absolutamente, imprescindível” a trasladação para o Panteão Nacional, em Lisboa.
Canavilhas defendeu, em contrapartida, um investimento do Estado português no “aumento da sua visibilidade, mantendo o túmulo nas diferentes rotas e tornar o poeta mais conhecido em Macau”.
“É um melhor serviço do que a trasladação”, enfatizou.
Antes de dar o seu parecer, a Comissão Parlamentar quer conhecer o documento que propõe a trasladação dos restos mortais do autor de “Clepsidra”, cujos subscritores não foram desvendados, ouvir o Instituto Cultural de Macau e a Academia de Ciências de Lisboa."
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