Elisabela Larrea criou este mês um blogue que é um veículo de difusão da cultura macaense. Em cada semana, no “Bela Maquista”, a investigadora e realizadora apresenta um cartão electrónico com uma palavra em patuá, e tradução trilingue.
Sílvia Gonçalves
"Elisabela Larrea carrega no nome e no corpo raízes cruzadas, que chegam do paterno País Basco e de uma Macau materna, onde nasceu, e cuja cultura se habituou a escavar desde criança, conduzida pelo avô. Depois de um mestrado sobre identidade macaense, segue-se um doutoramento em comunicação intercultural que por estes dias a leva a analisar o teatro em patuá, dos primórdios aos contemporâneos Dóci Papiaçám di Macau. Ao participar num seminário, percebeu o interesse da comunidade chinesa por um caldo cultural que a envolve e que desconhece. Confrontada com a falta de fontes sobre a cultura maquista fora das línguas portuguesa e inglesa, a investigadora atirou-se a criar o blogue “Bela Maquista”. E ao blogue juntam-se os cartões electrónicos (“flash cards”) onde palavras em patuá encontram correspondência em português, inglês e chinês, e que servem o intuito de atirar o crioulo local para lá das fronteiras de Macau. Para que palavras como “chuchumeca” e “amochai” se entranhem em toda a diáspora macaense.
“Em Dezembro estive num seminário, a introduzir a cultura macaense aos chineses. Eles tinham muito interesse em saber mais sobre os macaenses. Para os chineses, a cultura macaense é parte de história de Macau e da sua singularidade. Percebi que havia falta de fontes para pessoas que não falam português ou inglês, para aprenderem sobre a nossa cultura. Quero apresentar mais às comunidades locais, foi essa ideia principal que me levou a criar blogue Bela Maquista”, conta Elisabela. A investigadoras avançou para a criação, em meados do mês, de um blogue trilingue onde a presença da língua chinesa permite levar o patuá à mais numerosa comunidade de Macau.
A par com o blogue, surgem os ‘flash cards’, feitos por Elisabela. A ideia chegou-lhe pelo linguista Kevin Wong, que em Singapura elabora estes cartões no dialecto kristang, falado há séculos em Malaca. No blogue da investigadora e realizadora, a cada semana surgirá um novo cartão e em cada um uma nova palavra. À primeira, “amochai” (amorzinho), seguiram-se chuchumeca (intriguista) e “nhónha” e “nhum” (papariga e rapaz): “Estou a pensar fazer um por semana, ir devagar. Mas acho que tenho que fazer mais, porque há muitas pessoas que querem, macaenses, não macaenses, querem conhecer mais patuá”. E uma palavra há que já está a alastrar entre os que a rodeiam: “Vou usar palavras simples nos cartões, que nós macaenses usamos sempre, e que são fáceis de lembrar. Por exemplo, chuchumeca. Já há algumas colegas minhas chinesas que estão a usar diariamente essa palavra. Estou muito contente por isso”, assegura.
A produção de cartões alimenta-se da vontade de disseminar o patuá por esse mundo sem fronteiras que a blogosfera contempla: “Na internet nós podemos divulgar muitas coisas, sem limites geográficos ou económicos. E também porque em chinês, português e inglês permite a mais gente conhecer, não só de Macau mas de fora de Macau, macaenses na diáspora e mais pessoas”. A investigadora assume o propósito mais vasto de chegar às novas gerações, às quais restam poucos meios de aprendizagem da língua crioula de base portuguesa: “A pouco e pouco chegar a outra geração, porque o problema com o patuá é que são os velhos que falam, mas os novos não têm meio de conhecer ou aprender. Há um ou dois livros, mas eles estão mais atraídos pela internet, por isso acho que os ‘flash cards’ são uma forma simples de difundir o patuá, conclui."
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sábado, 28 de maio de 2016
MACAU: "Flash cards" em patuá, para tomar de assalto a blogosfera
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