sexta-feira, 6 de maio de 2016

MACAU: Do interesse crescente pelo Português, dentro e fora do discurso político





by Ponto Final
O mundo lusófono assinalou ontem o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP. Por cá, entre alguns dos principais actores na promoção do Português, há quem entenda que, após 2049, o universo lusófono permanecerá no radar dos interesses da República.
Sílvia Gonçalves

"A data foi instituída em 2009 e a cada 5 de Maio perpetua-se, desde então, a celebração da língua portuguesa e da cultura lusófona nos locais onde o português ainda é falado. Em Macau é notória, nos últimos anos, a tendência institucional para vincar a promoção do português e do bilinguismo. João Laurentino Neves, director do Instituto Português do Oriente (IPOR), enquadra a promoção detectada no discurso e acção políticos numa estratégia para a afirmação do território no contexto regional. Carlos Ascenso André, coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM), acredita que 2049 não se traduz numa meta temporal para a presença do português na RAEM, pois continuarão os países lusófonos a representar “um universo de grande interesse para a República Popular da China”.
Entende Carlos André que o interesse plasmado no discurso governamental é acompanhado de um interesse, também ele crescente, por parte das comunidades locais na aprendizagem do idioma de Camões e de Machado de Assis: “Os dados existentes parecem dizer que assim é. A procura do Português em cursos não conferentes de grau, como os do IPOR ou da EPM [Escola Portuguesa de Macau], por exemplo, além de instituições de ensino superior, documentam um interesse crescente pela língua portuguesa por parte da comunidade. Neste momento, esse interesse ainda está em crescendo, o que é muito positivo”, afirma
E corresponde o interesse a um crescimento efectivo dos falantes de português no território? “Não há estatísticas fiáveis a este respeito, pelo que qualquer afirmação neste sentido resulta sempre de uma sensação de origem empírica, mas não assente em dados suficientemente objectivos. Penso que estão a aumentar ligeiramente”, diz o académico.
Afigura-se ainda distante, a data que dita o fim do português enquanto língua oficial na RAEM. Será, então, a presença da língua não mais que residual? “Faltam mais de 30 anos. Depende de muitos factores que não conseguimos controlar nem prever. O mais importante desses factores é a importância dos países lusófonos no panorama económico internacional e, por via disso, o interesse que esses mercados terão para a RPC. Tudo leva a crer que o conjunto dos países lusófonos continue a ser um universo de grande interesse para a RPC, e, nesse sentido, 2049 não constituirá uma meta temporal para o Português na RAEM”, sustenta Carlos André.
Para o ex-director da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o ensino do português tem “inequivocamente” condições para prevalecer em Macau. André fala mesmo em intensificação: “Nos próximos anos iremos assistir a uma intensificação do ensino do Português em Macau, como em toda a República Popular da China. A ‘explosão’ que se verificou nos últimos seis anos não é um epifenómeno episódico. Vai prosseguir por muitos anos”, defende.

PORTUGUÊS ESTRATÉGICO PARA A AFIRMAÇÃO DA RAEM

“De facto, a promoção da Língua Portuguesa e do bilinguismo tem estado presente no discurso e na acção política ou institucional, até também como estratégia para a própria afirmação da RAEM num contexto regional. Ao estatuto político de língua oficial associa-se a percepção da sua importância para aquela que é a singularidade de Macau no contexto da República Popular da China e as oportunidades que daí decorrem face às opções políticas que, de algum modo, envolvem a língua portuguesa”, salienta João Laurentino Neves. Ao valor político, director do IPOR acrescenta o que diz ser o valor económico da língua portuguesa, “no sentido de as pessoas a percepcionarem como susceptível de gerar mais e melhores oportunidades, sejam empresariais ou profissionais (presentes ou futuras), de mobilidade geográfica, de empregabilidade e, obviamente, de mais rendimento”.
Finalmente, há ainda o valor social da língua, onde segundo João Neves também se têm registado “grandes alterações”, e onde diz haver “ainda muito espaço de evolução para um bilinguismo mais generalizado, que não é visto por todos como útil ou necessário”.
Entende Laurentino Neves que a RAEM “dispõe efectivamente de um número crescente de pessoas que detêm competências também em Língua Portuguesa”, faltando, no seu entender, “uma informação sobre quais são essas competências”. Já sobre a presença do português em Macau quando este não mais for entendido como oficial, o director não arrisca previsões, mas acredita que “quanto mais se trabalhar no presente nessa formação de quadros detentores de competências em língua portuguesa – o que o Governo tem designado por ‘talentos bilingues’ – maior a certeza de uma forte presença da Língua Portuguesa no futuro”.
Também o Instituto Português do Oriente se associou às iniciativas que ontem decorreram em diversos países lusófonos. O organismo instalou no seu Café Oriente o que designou por “Mural da Língua Portuguesa”: “Durante o próximo mês, a todas as pessoas que passem pelo Instituto e, de modo particular, aos formandos dos cursos, é pedido que aí registem aquela que é a sua palavra preferida da Língua Portuguesa, enquanto num segundo painel completarão a frase: “Para mim, a Língua Portuguesa é…”. De modo a observar “não apenas o lexema mais apelativo da nossa língua para os diversos aprendentes de português, mas, sobretudo, percepções e representações que dela constroem”.

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