Óleo de Emília Alves |
Com a devida vénia, em dois "posts":
"Sintra é o mais belo adeus da Europa quando enfim encontra o mar. Camões o soube quando os seus navegadores a fixaram como a última memória da terra, antes de não verem mais que "mar e céu". E, no entanto, ou por isso, o espaço que ela nos abre não é o da infinidade mas o do que a limita a um envolvimento de repouso. Alguém a trouxe de um paraíso perdido ou de uma ilha dos amores para uma serenidade de amar. Ela é assim o refúgio de nós próprios e de todo o excesso que nos agride ou ameaça. O sagrado dos seus bosques de frescura e de sombra não se nos interioriza como o espaço de uma catedral, mas exterioriza-se em acalmia de uma mitologia pagã. As ninfas que habitaram estes bosques, deixaram, ao abandoná-los, a memória física de um prazer sensível.
Sintra é o único lugar do país em que a História se fez jardim. Porque toda a sua legenda converge para aí e os seus próprios monumentos falam menos do passado do que um eterno presente de verdura. E a memória do que foi mesmo em tragédia desvanece-se no ar ou reverdece numa hera de um muro antigo.
Em Sintra não se morre - passa-se vivo para o outro lado. Porque a morte é impossível no vigor da beleza. E a memória do qe se passou fica nela para colaborar.
Eu disse que as ninfas abandonaram estes bosques. Mas não é de todo improvável que voltemos a encontrá-las.Como todas as divindades pagãs que nasceram para perdurarem no eterno da juventude. O aviso de Dante para abandonarmos as esperanças às portas do Inferno, inverteria aqui o sentido para se entrar no Paraíso. E não precisaríamos para no-lo iluminar, porque estaria invisível no visível de outra beleza. O que deixamos à porta é o excesso do que nos oprime e convulsiona e incendeia as noites de insónia. O que deixamos à porta é justamente o Inferno.
Possível é assim que os olhos já cristinializados neste bosque deleitoso medievo os seus anjos mensageiros, educadores da Justiça, Fortaleza e outras virtudes que lá nos faltam (...)."
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